Lendo as indignações com ironia escaldante à mistura sobre um caso passional entre uma senhora do PS e um tipo neo-nazi, repugnante como todos os da sua laia, que serviu de crónica promocional ao lançamento de um pasquim que dificilmente conseguirá melhor que os dos melhores tempos da "Voz de Povo", não posso deixar de me lembrar do magnífico romance de Ana Cristina Silva, o injustamente pouco (face ao que merecia) celebrado "Cartas Vermelhas". É que meter avaliações políticas e até partidárias em casos de afectos e de paixões amorosas, é lance de elevadíssimo risco pois os sacanas dos corações gostam de se abster das opções ideológicas, preferindo outras sem que se saiba quais. Notou-se que muitas alfinetadas que serviram a onda promocional do "Observador" tinham a ver com o facto da senhora, a traidora no caso, ser do PS e portanto acartava-se areia para a camioneta do repúdio por uma outra traição associada e maior (a do PS, ele mesmo). Não tenho dúvidas que foi este poder de associação que sintonizou (servindo a promoção do pasquim) J M Fernandes e a multidão de indignados. Por isto mesmo, talvez fizesse bem, acrescentando-lhes tino, munirem-se de um aparelho de medida apropriado, caso exista, para compararem este caso com o que uniu Carolina Loff (dirigente do PCP e funcionária do Komintern) e um agente da PIDE. É que além da útil comparação, talvez ajudando a moderar ódios de justicialismo partidário e imediatista, lendo a Ana Cristina Silva ganham um prazer literário que ultrapassa, de longe, o prazer menor dos paparazzis úteis.
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