Qualquer reforma profunda na Educação exige, além de muito talento, enorme coragem e persistência. Será até dos maiores e mais extenuantes desafios aos governantes. Por outro lado, para complicar as coisas, nem se lhe pode aplicar a radicalidade, para que o caos não se instale, nem desfalecer porque muitas e tamanhas são as resistências a contornar ou vencer.
Desde logo, a máquina ministerial é um monstro com uma pesada e ramificada burocracia de hábitos arreigados e estruturados. Assim sendo, o Ministério é, à partida, um instrumento pouco apto para liderar e motivar a mudança. Qualquer mudança, quanto mais mudanças em profundidade.
Na Educação, estão instalados alguns dos mais fortes e resistentes dos espíritos corporativos que povoam a Administração Pública. E que a distorcem do sentido da sua “função pública” – servir as escolas e os alunos, sendo antes cultivado o acesso a rápidas carreiras e boas remunerações. O que é fortalecido na sua componente “conservadora” sabendo-se, como se sabe, que a par de um punhado largo de professores por vocação pululam os professores por sobrevivência e omissão (pela impossibilidade de acederem a outras vias profissionais de ganharem a vida). Acresce que a legião corporativa professoral está barricada, na defesa dos seus “interesses de classe”, num corpo profissionalizado e numeroso (são muitas, demais, as centenas de professores que só “ensinam” sindicalismo em “full time”) que enquadra o aparelho sindical da classe e cioso da forma privilegiada como interfere e pauta nas decisões ministeriais, sobretudo no fito de bloquearem mudanças que perturbe o “status quo” da apregoada “dignidade dos professores”. E, pelo impacto que qualquer movimentação reivindicativa dos professores tem sobre a vida de quase todos os portugueses, afectando-lhe a rotina dos filhos, é quase irresistível o recurso persistente à politização dos problemas da classe, lançando-os na luta a propósito e a despropósito e para alegria exclusiva de controleiros político-sindicais desejosos de apresentar boas folhas de serviço.
Também não ajuda à reforma do Ensino, a psicologia dos encarregados de educação que quase todos nós somos. Pouco ligados à vida das escolas e à partilha dos seus problemas e soluções, o comum é evitarem-se perturbações de maior e a visão da Escola é feita segunda a lupa exclusiva do “caso do nosso filhinho”. Será até dos casos em que mais se faz sentir a tendência particularizante da visão social dos portugueses com a redução dos interesses imediatos (os que beliscam a Família) sem qualquer disponibilidade para enfrentar perturbações de mudanças e, muito menos, contribuir para a solução de problemas que competem ao “Estado”. Ou não é verdade que grassa o absentismo dos encarregados de educação às reuniões na escola e que a maioria dos que teimam na presença só lá vão para saber como correm as coisas com os da sua prole?
A resolução racional, logística e infraestrutural dos problemas nas Escolas depende em boa parte da colaboração das Autarquias. E aqui, se há exemplos estimulantes, abundam os aproveitamentos de pretextos para alimentar a guerrilha entre Poder Local e Poder Central. No que contam com o acirrar das populações na fixação de falta de disposição para se ver além da casa, da rua e do bairro.
No último “Prós e Contras” da RTP, foi patente a forma vitoriosa como a Ministra se está a sair bem da sua estratégia de contornar o corporativismo professoral e ligar-se directamente à Escola e à resolução concreta dos seus problemas, empurrando a Educação rumo à modernidade e á responsabilização. E não será novidade menor o aparecimento de uma nova camada de professores motivados na ligação às comunidades locais e apostados na modernização eficiente dos problemas colocados Escola a Escola, com brio no serviço à “causa pública”. Como foi patético o esforço do representante da Oposição para criticar a ministra. Para não falar na triste figura do representante sindical (da Fenprof) a que nem lhe valeu a ajuda guerrilheira de um professor excitadamente furibundo vindo de Seia, qual Viriato a descer da Serra da Estrela para desancar o Estado de Direita.
De longe, a Ministra da Educação continua no “top” como o membro do governo mais enérgico, persistente, corajoso e reformador consequente. Oxalá tanta energia empregue não lhe esgote o fito reformista e a vontade de quebrar o “instalado”. Os nossos filhos, os portugueses de amanhã, o futuro do país, só lhe podem ficar agradecidos. Porque temos Ministra. Não Santa Milagreira da Educação, apenas o que se precisa: uma Ministra.
OS MEUS BLOGS ANTERIORES:
Bota Acima (no blogger.br) (Setembro 2003 / Fevereiro 2004) - já web-apagado pelo servidor.
Bota Acima (Fevereiro 2004 a Novembro 2004)
Água Lisa 1 (Setembro 2004 a Fevereiro 2005)
Água Lisa 2 (Fevereiro 2005 a Junho 2005)
Água Lisa 3 (Junho 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 4 (Outubro 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 5 (Dezembro 2005 a Março 2006)