Está reunida em Havana a “Cimeira dos Países Não Alinhados”. Trata-se, como é bom de ver, de uma relíquia dos passados tempos da “guerra fria”. Este Movimento, na fase da sua criação e primeira fase de existência, desenvolveu um papel importante na afirmação política dos países em vias de desenvolvimento numa fase em que era necessário dar combate aos restos de colonialismo e ao neo-colonialismo e no apoio aos movimentos de libertação. Embora, desde a sua origem, o Movimento comportasse uma profunda contradição na sua composição, procurando afirmar-se fora ou além da dicotomia EUA/URSS que tendia a polarizar toda a geopolítica mundial, comportava países “alinhadíssimos” e praticando ditaduras em regime de partido único. Mas, como voz do “Terceiro Mundo”, o Movimento, mais que os valores dos direitos humanos ou da democracia, conglomerava sobretudo vontades de afirmação desenvolvimentista pretensamente autónoma e estratégias de libertação da pata colonial. Não admira, pois, que o Movimento, desde o início, tenha sido acarinhado pela União Soviética (em disputa de influência com a China) e detestado pelos Estados Unidos e as potências coloniais (Portugal incluído e à cabeça). O que, desde logo, funcionou como baliza de parcialidade pouco não alinhada face aos blocos de então.
Com o decorrer do tempo, esgotando-se a agenda da sua afirmação e dos propósitos anti-coloniais, as Cimeiras dos Não Alinhados foram-se transformando em pouco mais que um “coro de caloteiros”. Ou seja, numa plataforma em que os governos que contraíam dividas externas vultuosas, quantas vezes gastas na corrupção ou em obras de fachada e faraónicas, exigiam que as dívidas exuberantemente contraídas lhes fossem perdoadas. Depois, com o advento do “domínio unipolar” e a implosão soviética, as referências autonómicas perderam todo o sentido. Hoje, sobrevive como uma mera velharia perante um mundo diferente. Ou, vamos lá, uma saudade excêntrica ou um jogo de ilusões complexadas.
Face aos conflitos culturais, políticos e civilizacionais do mundo de hoje, os “Não Alinhados” são uma aberração de identidade. E se olharmos para a sua composição, bem se pode dizer que o Movimento é “Alinhadíssimo”. Ou Cuba, a Coreia do Norte, a Arábia Saudita, a Síria e o Zimbabwe, seus membros, não são exemplos acabados de regimes violadores e contumazes dos mais elementares direitos humanos? Num aspecto, os representantes dos “Não Alinhados” têm sorte nesta Cimeira
Imagem: Foto dos principais patronos da criação do Movimento (todos já falecidos): Nasser, Tito e Nheru.
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