Na pausa frágil da guerra, surge a hora dos contabilistas com costela de urubu. Daqueles que elaboram o saldo entre vencedores e vencidos, puxando brasas às sardinhas de seu gosto. São os prosélitos dos balancetes de ganhos, perdas, culpas, impotências e desforras, deitando para trás das costas os choros, antes pungentes, perante as “suas vítimas”.
No caso recente do fogo no Médio Oriente, infelizmente, o que temos por agora é um adiamento, cansado e empatado, do primado da violência sobre a tolerância, a política, o diálogo e a diplomacia. Onde, mais cedo ou mais tarde, se vai voltar a ouvir cantar mísseis e rockets nas terras martirizadas. E, neste sentido, e para já, nenhum dos lados beligerantes é vencedor ou vencido. Apenas descansam, esperam e recalculam o momento julgado certo para voltar ao canto das armas.
Mas mesmo quando não há vencedores, vencidos sobram em todas as guerras. Também nesta, agora
Para reforço da nossa vergonha, há um outro vencido – nós, europeus. Incapaz de se unir e ter força, a Europa demonstrou, mais uma vez, a sua impotência em se impor na ordem e no direito internacional, com força militar equivalente à ambição política ajustada à sua dimensão como potência económica, desempenhando um papel charneira e moderador. Essencialmente, porque, entre os europeus, continua a prevalecer o que divide sobre o que une. Mostrando que somos mais propensos à burocracia que à eficácia e à autoridade. E esta autofagia euro-céptica leva os europeus à desculpa escapista de, em vez de apostarem numa Europa forte, preferirem o despeito complexado perante uma América demasiado forte e que se gostaria fosse fraca.
Que esperar dos ímpetos calculistas dos presumidos vencedores (e, pelos vistos, todos os aparelhos das partes beligerantes como tal se classificam) se os vencidos - as vítimas da metralha mais os europeus de verbo fácil mas sem vergonha nem honra nem sequer força – nada quiserem aprender? Agora vão-se contar as baixas, reconstruir, ajudar, puxar os cordões á bolsa, enquanto os contendores se rearmam para a desforra. Para, em próxima oportunidade, se voltar a chorar as vítimas, os vencidos do costume.
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