Segunda-feira, 14 de Agosto de 2006

ISABEL LAVA MAIS BRANCO

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Na sua tréplica a Esther Mucznik, no Público de hoje, Isabel do Carmo diz do Hezbollah: “não é uma organização terrorista”. E esclarece mais: “É um partido organizado, tem deputados eleitos e foi a forma daquela população se organizar”.

 

Este diploma passado ao Hezbollah tem a chancela da imensa autoridade da sua autoria. Ela, Isabel do Carmo, dirigiu muitos anos o PRP-BR (*), provavelmente “um partido organizado, sem deputados eleitos e que foi a forma da população portuguesa se organizar”. Foi sempre um partido armado, semi-clandestino, basista, inspirador de Otelo e do Copcon, recusando o jogo democrático-burguês e qualquer consenso político, que terminou na deriva das FP-25 (em que, diga-se, Isabel do Carmo e Carlos Antunes já não participaram). Nunca terão sido terroristas, apenas um “partido organizado” (haverá “partidos desorganizados”?). Ai a coerência perante o passado…

 

(*) – Sigla do “Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias”.    

 ----------------------------

Adenda: Para conhecimento da versão integral do texto de Isabel do Carmo (não disponível on-line) ler aqui, onde pacientemente foi dado à estampa por um ilustre admirador da médica mediática.

Publicado por João Tunes às 14:24
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6 comentários:
De Anónimo a 15 de Agosto de 2006
Quem comenta é semita, porque a isso não pode escapar; não é judeu, porque oriundo de famílias que há várias gerações se tornaram conversas e porque não professa qualquer religião.

Apesar das antigas raízes que me ligam aos habitantes daquela região, não nutro qualquer simpatia pelo Estado de Israel. Reconheço, aliás, que muitos factos apontados por Isabel do Carmo têm uma razoável correspondência com a factualidade histórica. Como muitos outros povos, os hebreus abandonaram a sua terra de origem (no caso, a Judeia e a Cisjordânia) porque ela era madrasta o suficiente para que buscassem na diáspora melhores condições de existência; não foram expulsos, como os modernos israelitas fizeram com os povos árabes que habitavam a Palestina ao tempo do protectorado britânico e da constituição do Estado de Israel.

Surpreende-me que ainda hoje se dê a existência do Estado de Israel como coisa adquirida e pacífica, quando ela é, de facto, o grande problema da região. Todos ficariam satisfeitos se um Estado árabe palestino fosse igualmente constituído, como contrapartida àquele facto consumado de usurpação territorial, sem se aperceberem da impossibilidade de constituir um Estado viável com base em enclaves e sem acesso à água (objectivo da política guerreira e expansionista do Estado de Israel). Ninguém, ou muito pouca gente, aponta a necessidade de constituição de um único Estado multinacional ou de qualquer outra forma de associação entre dois Estados soberanos, embora todos se apercebam que este status quo não conduz a nada de bom. Entre tantos falcões, de um lado e do outro, desapareceram as pombas que pudessem mostrar a necessidade do abondono do fundamentalismo religioso que caracteriza árabes palestinos e israelitas.

Isabel do Carmo erra ao não classificar o Hezzbolah como seita fundamentalista que utiliza o terrorismo como arma política, tratando-o por simples partido político integrado no Estado libanês (ainda assim, com exército particular!); mas outros erram, igualmente, ao não considerarem o Estado de Israel como baseado no fundamentalismo religioso e utilizador do terrorismo de Estado como arma política. Será que o terrorismo feito por voluntários muçulmanos fanáticos é assim tão diferente do terrorismo levado a cabo por mercenários judeus fardados; ou que a existência de instituições democráticas em Israel é factor suficiente para qualificar de legítima defesa as acções militares e terroristas do Estado de Israel, e a sua inexistência do lado palestino qualifica irremedialmente as suas de terroristas?

Uma outra observação. A ideologia sionista, na base da qual se constituiu o Estado de Israel, reclamando um direito à terra com base na mitologia bíblica e a proclamação dos judeus como povo eleito, não diferem muito de similares teorias nazistas do direito à ocupação de territórios, que a mitologia atribuia aos alemães, e duma imaginada supremacia duma hipotética raça ariana.

E foi esta cultura, de base racista, que os haskenazims transportaram da Europa Central, e que tanto se diferencia da cultura de integração praticada ancestralmente pelos sefaradis, mesmo quando foram alvo de perseguição em massa, que presidiu à criação do estado de Israel e tem marcado indelevelmente a política israelita.

Por fim, seria bom nós todos interrogarmo-nos, mas principalmente os que se afirmam judeus, sobre o significado de ser judeu hoje. Um judeu é mais do que um praticante do judeismo; é um detentor de algumas práticas culturais derivadas da religião; é um membro de um pretenso povo eleito; é um cidadão com dupla nacionalidade, israelita e do país onde nasceu ou vive?

Certos discursos que andam por aí, pretendendo à força misturar anti-sionismo com anti-semitismo já enojam. Semita sou eu, e afirmo-me conscientemente anti-sionista.

macsilva.
De João Tunes a 16 de Agosto de 2006
Agradeço, sem miligrama de nojo, o comentário autobiográfico, étnico e contraditório. A tolerância, como valor, não pode ser apenas exigida aos outros.
De Anónimo a 16 de Agosto de 2006
Como vem sendo seu hábito, mais uma vez se engana.

O comentário, apesar da referência às origens étnicas do autor (porque elas não se podem esconder, reaparecem a cada olhada ao espelho, nem se renegam), foi apenas político. Aquela referência servia apenas para identificar que mesmo sendo quem sou não comungo das suas opiniões, nem da daqueles que teimam em identificar anti-sionismo com anti-semitismo.

Verifico que utiliza, no ataque aos adversários, apenas aquilo que lhe interessa. No caso do texto da Isabel do Carmo, aproveitou-se da referência ao carácter não terrorista do Hezbollah, que nem de longe constituía o essencial, para a atacar. Tudo o resto, que era o mais importante, você calou. Não são procedimentos correctos.

Além do mais, também você tem manifestado opinião de que a política guerreira, expansionista, racista e terrorista de Israel não passa de legítima defesa. Esta sua opinião é muito mais discutível do que a de Isabel do Carmo acerca do Hezbollah, porque tem contra si quase 60 anos de provas em contrário.

Você, que por vezes alude ao uso que os outros fazem de dicotomias simples na análise de situações complexas, deveria reflectir melhor nas posições que assume nesta questão. Conhecer a história do conflito, por exemplo, não lhe faria mal, e talvez o ajudasse a não confundir anti-sionismo com anti-semitismo, nem a presumir que quem critica a política israelita é favorável à política dos grupos árabes fundamentalistas. Para mim, entre uma e outra, venha o Diabo e escolha; para si, por qualquer estranha admiração, o alinhamento com Israel é a escolha certa. Valha-nos podermos escolher.

Não se iluda, porém, porque ser citado por outros comentadores com opiniões do mesmo jaez não é motivo suficiente para dotar de qualquer racionalidade as suas posições políticas pró-israelitas, muito menos, para conferir-lhes qualquer validade. Está no pleno direito de manifestar as opiniões que entender e de procurar as companhias que lhe aprouverem. Deveria conceder à Isabel do Carmo esse mesmo direito, e não fustigá-la por tão pouco.

Escusa de realçar a sua tolerância para com as opiniões alheias. Manter a caixa de comentários aberta seria disso exemplo. Apagar comentários, porém, é com essa afirmação contraditório.

macsilva.
De João Tunes a 16 de Agosto de 2006
Pelo última vez vou perder tempo de prosa consigo, caro senhor que se confessa da autoridade de semita (o que para mim adianta a mesma inutilidade que se tivesse confessado caucasiano, celta ou bakongo) e que se esconde no nickname de "macsilva" (sem link). Primeiro, porque não gosto de conversar com fantasmas na clandestinidade. Segundo, porque não sou masoquista para andar a comprar rifas de juízes inquisidores irritados com opiniões alheias divergentes. Terceiro e último, o meu blogue não é abrigo de blogless. Sempre respeitei opiniões divergentes SE URBANAS. Aliás, no post sobre a Isabel do Carmo, fiz adenda de link para o texto integral do artigo que ela publicou. O meu blogue faz identificação do IP das entradas pelo que entendo bem o último parágrafo do seu último comentário. Mas a injustiça da sua sentença não lhe é honrosa - não apago divergências (por isso, mantenho os comentários que não pisam o risco da educação e assim continuará a ser, inclusivé se se der à continuação da maçadora mas tolerada companhia); apago inapelavelmente qualquer comentário insultuoso para comigo ou outra pessoa. Isto não é vomitório de frustados biliosos. E aos que variam de nickname consoante a linguagem que decidem utilizar, não lhes vou facilitar a vida sinuosa. Passe bem. The end.
De Anónimo a 17 de Agosto de 2006
Pelos vistos, comentar os seus textos, criticando as opiniões que expressa, é ousadia demasiada para a sua bitola de tolerância. As louvaminhas soam-lhe melhores melodias, tal como a alguns ditadores que parece criticar. Doutro modo, não se compreende como me ofende tão despropositadamente. Faça bom proveito da sua falta de educação, e guarde os seus ódios de estimação para os fantasmas que o perseguem. Passe bem.

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