Domingo, 27 de Fevereiro de 2005
Vítor Wengorovius foi-me uma figura próxima afastada. Tal como Jorge Sampaio e Eurico Figueiredo, ele era um veterano quando me iniciei na luta estudantil. Mas era uma ressonância de tribuno e de persistência a conduzir os estudantes de Lisboa contra o bolor salazarista. Acima de tudo, um valente. Que, aos mais jovens como eu, incitava à valentia.
Era um homem ligado à Juventude Católica, mas integrava a sua facção mais esclarecida de recusa do fascismo, pelo lado da sua negação como espelho evangélico. E, também por isso, por esse lado particular de rotura, era especialmente admirado. Porque foi um vidrinho decente no tamanho enorme do vitral da Igreja Católica que emoldurou a catedral do tempo do fascismo português.
A sua carreira de advocacia levou-o à defesa de muitos presos políticos e, depois, ao serviço de causas sindicais onde permaneceu até a saúde o permitir.
No pós-25 de Abril, continuou a acompanhar Sampaio no MES, enquanto este movimento existiu. Em 1999, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Reconhecimento mais que merecido.
Vítor Wengorovius deixou-nos agora. A minha homenagem companheira. E a mais respeitosa possível entre as que a um ateu são admissíveis quando perante um católico caído no combate da vida, merecendo-a.