Diz o meu estimado e admirado Manuel Correia:
“E o Hezbollah, no Líbano, ou o Hamas, na Palestina, pese contra eles tudo o que se quiser, tem uma legitimidade democrática que não se compara, nem de perto nem de longe, com a da pax americana que gerou e protege o Sr. Maliki. Os grandes exportadores da democracia têm o topete de recusar «certos» resultados eleitorais quando os eleitos não lhes convêm. Já se tinha visto antes, é certo, mas faz sempre alguma impressão.”
Pois é, falaste bem. Em perfeito acordo com a regulamentação democrática. Na parte que toca ao critério de apreciação “interna” (ou seja, a aferição da legitimidade governativa pelo resultado dos votos). Mas, meu caro, não entendes que essa mesma legitimidade tem, se as nações e os estados têm obrigações para com os “outros”, particularmente para com os vizinhos, ser aferida (ou homologada, se preferires a linguagem jurídica) pelo respeito ou não respeito do princípio da eternidade da não agressão e não contestação da soberania exercida noutros limites de fronteiras (se também legitimadas em outras escolhas e outros votos)?
Hitler chegou ao poder por eleição legítima dos alemães. E até final, a esmagadora maioria dos alemães adoraram-no e seguiram-no, matando e morrendo por ele. Assim, do ponto de vista estritamente alemão, se houve político com “legitimidade” perante os “seus”, Hitler está nesse retrato. O problema com o Hitler “apenas” foi dos internos perdedores (judeus, comunistas, social-democratas, maricas, ciganos e testemunhas de Jeová) e dos “outros” - os vizinhos a ocupar e a abater.
Se o Hezbollah fosse um “problema libanês”, o Hamas um “problema palestiniano”, os ayatollas um “problema iraniano”, os tallibans um “problema afegão”, seriam apenas escolhas internas democraticamente conseguidas, portanto legítimas, e o baile devia acabar aqui. Só que, como Hitler não foi só um “problema alemão”, o Hezbollah, o Hamas, os ayatollas e os tallibans, são também um problema para todos. Porque o fito comum e fanatizado de todos eles é destruir Israel, atacar a civilização, impor uma ordem islâmica integrista pela bomba, pela pedra e pelo “rocket”, escaqueirar a democracia onde quer que ela se pratique, regredir aos tempos do expansionismo muçulmano, levar as mulheres de volta à regressão medieval, destruir o legado mais importante deixado ao mundo pelos soviéticos (a unipolaridade americana). Restando-nos, desesperadamente, como única alternativa á unipolaridade imperial dos States, a regressão ao domínio das madrassas, dos xeques e de Meca. E, como canta bem o Sérgio, “para melhor, está bem, está bem, para pior já basta assim”.
Finalmente: claro que os israelitas não são "santos", são até legitimamente detestáveis, mas como não lhes reconhecer que fazem, estão a fazer, com abusos condenáveis de toda a ordem, o trabalho sujo dos "pecadores" que nos recusamos a ser? Mas se é esta, a "linguagem do pecado", a única capaz de conter o "problema para os outros" constituído pelo Hezbollah, pelo Hamas, pelos ayatollas e pelos tallibans...
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