Um dos muitos palermas com blogues abertos sem a auto-desejada audiência, com o vício da cobardia da clandestinidade coberta pela valentia do pseudónimo, cumpre a saga de tantos seus falhados parceiros – pintalga com sentenças radicais os blogues de outros. Os célebres e até os modestos (em que se inclui o meu que é tão tão modesto que dispensa sitemeter para não se envergonhar com a sua mísera “share”).
É caso, entre muitos casos, para tratamento de falha narcísica por padecimento de males na autoestima. Mas quem sofre e não se quer tratar, chateia outros. E nós outros, os que mostramos a cara e assinamos com o nome, não andamos cá para os aturar? Até certo ponto, sim. Se não passarem o ponto, é claro.
Pois um desses parvos acobardados, especializado (diz ele) em apanhar moscas, meteu detrito no meu post anterior sobre a nobre, valente e imortal manif de ontem frente à Embaixada de Israel. E lavrou condenação desta forma lapidar: “será que a direita foi acometida de cretinice... doença para a qual ainda não há vacina?”. Fiquei chocado, mais que indignado, perante os retratos dos meus estimados pergaminhos de esquerda que tão árduos e penosos trâmites me custaram no corpo para os poder emoldurar. E um tipo, seja de direita, de esquerda ou do centro, se deita as molduras vividas todas para o lixo, fica feito o quê quando olha para o espelho da vida?
O primeiro impulso foi dar bofetada de silêncio como resposta ao palerma anonimado. Depois, fiquei a remoer sobre se ele, afinal, não teria a sua sábia razão de, nas minhas curvas e contracurvas, ao estar por Israel e pelos judeus [eu, que não sou nem judeu e muito menos israelita, apenas ateu graças a deus a tentar pensar pela única cabeça que tem em cima do pescoço], preferindo-os aos bombistas por Alá, merecer que ele me aponte o dedo (tratando-se de um jurado encapuçado e encartado em questões da linha geométrica-política de demarcação direita/esquerda), mostrando-me, como aviso, um cartão amarelo alaranjado perante o meu resvalar para a direita imperial e sionista. Porque, aprendi com a idade, para nos termos em atenção e boa postura na formatura, é melhor um vómito de um inimigo que um elogio de amigo. Pois pensei e repensei, revi tudo que Brecht ensinou sobre a técnica de distanciação, analisando-me e revendo-me, e afinal … dou-lhe razão. Só que a culpa não é minha. Ela cai toda, a cem por cem, no difosfato de cloroquina.
Resolvida a localização salvadora do meu químico-fármaco a funcionar como bode expiatório dos meus desvios políticos, passo a apresentar o resumo das razões cientificamente provadas (que me servem, no caso, ás mil maravilhas). Há um ror de tempo, tomo pastilhas de difosfato de cloroquina, entre os seis fármacos que o meu médico, atento ao evoluir desbragado da minha velhice, me manda ditatorialmente meter goelas abaixo sem falha de um único dia de folga. Só que, no caso gravoso do difosfato de cloroquina, os efeitos secundários avisados são os de perda de percepção da cor vermelha (!). Assim sendo, não querendo contrariar o saber médico do meu atilado clínico assistente, tenho de viver o que me resta de vida com a perda continuada da minha capacidade de distinguir o vermelho entre as demais cores. Como, entretanto, o meu benfiquismo não se queixou das doses de difosfato de cloroquina [muito pelo contrário e até porque já lavrei testamento a exigir a bandeira do Glorioso em cima da minha última cama a caminho do crematório], só posso deduzir que a progressão na minha aversão quimicamente provocada ao vermelho se concentra e esgota no meu resvalar político da esquerda para a direita, quiçá sem travar ao centro. Para mais, haverá coisa mais de direita que não ser contra as judiarias no Médio Oriente?
É isso. E obrigado ó “apanha-moscas” na clandestinidade. Mas nota bem, relata lá ao teu patrão Jerónimo, a culpa não é minha, é do difosfato de cloroquina! Se ele não sabe disso que consulte um camarada fármaco-químico. Mas se não quiser chegar a tanto, um qualquer médico também serve como consultor. Mesmo que seja da banda da direita sionista.
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