Sexta-feira, 18 de Março de 2005

PARA O REGRESSO DO MANUEL CORREIA

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Da minha infância e juventude no Barreiro, de quem me lembro de andar encavalitado em cavalgadura eram os GNR´s da vigilância da ordem salazarenta. Aos pares, espada pendurada e luzidia e os focinhos das alimárias estendidos em respiração ofegante para meterem respeito. (a malta havia de aprender a andar com um pacotinho de pimenta no bolso para o que desse e viesse, isto é, em caso de borrasca e atirada a especiaria às fuças do cavalo, evitava-se pisadela, coice e espadeirada e o mais certo é que fosse o agente de autoridade vil a bater com os costados no chão)

Por mais que me esforce a forçar a memória, nem nas quintas-feiras de espiga, que era dia de passeio e namoro para a Quinta da Lomba (então um descampado às portas do Barreiro), me lembro de ver alguém a passear de burro, de mula ou de cavalgadura de maior ou menor porte. É mesmo, não me lembro que os barreirenses usassem burro, talvez por elitismo de terra que era entreposto de transbordo entre o barco e o comboio para domar o Tejo, então sem pontes, e a querer boicotar a ligação norte-sul-norte. E depois, quando os alentejanos se lembraram de meterem nas suas canções de epopeia de desterrados à procura do pão que lhes faltava no celeiro da nação aquela do - quando cheguei ao Barrero / fui no barco que atravessa o Tejo / pensei e disse / já se foi o Alentejo - aquela malta intoxicada pelos fumos ácidos mais peneirenta ficou da sua posição estratégica nas vias de comunicação. É que, desesperançados de obterem reconhecimento da capital do outro lado do Mar da Palha, donde só vinha gente de mando e de vigilância (os engenheiros e os mangas de alpaca, os gnr’s e os Pides, mais os adeptos dos clubes grandes em dia de futebol), aos barreirenses restava o apreço amigo dos mais ao sul, os ainda mais deserdados, os que tinham o sonho de trocar praças da jorna por um emprego a acartar pirites e a queimar os pulmões sem saberem se era pior a fumarada nítrica ou a sulfurosa, porque para isso não tinham estudos competentes (do Alentejo, traziam os pulmões, a mania de reivindicar e o gosto por cantar). Por isso, a cantoria que metia o Barrero como ponto de clímax da epopeia dos caminhos para os tostões, era bastamente apreciado pela malta fabril. Ficou até como uma espécie de hino à importância da então vila.
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<img alt="Image181[1].jpg" src="http://agualisa2.blogs.sapo.pt/arquivo/Image181[1].jpg" width="200" height="279" border="0" /><br><br>Da minha infância e juventude no Barreiro, de quem me lembro de andar encavalitado em cavalgadura eram os <i>GNR´s</i> da vigilância da ordem salazarenta. Aos pares, espada pendurada e luzidia e os focinhos das alimárias estendidos em respiração ofegante para meterem respeito. <i>(a malta havia de aprender a andar com um pacotinho de pimenta no bolso para o que desse e viesse, isto é, em caso de borrasca e atirada a especiaria às fuças do cavalo, evitava-se pisadela, coice e espadeirada e o mais certo é que fosse o agente de autoridade vil a bater com os costados no chão)</i><br><br>Por mais que me esforce a forçar a memória, nem nas <i>quintas-feiras de espiga</i>, que era dia de passeio e namoro para a Quinta da Lomba (então um descampado às portas do Barreiro), me lembro de ver alguém a passear de burro, de mula ou de cavalgadura de maior ou menor porte. É mesmo, não me lembro que os barreirenses usassem burro, talvez por elitismo de terra que era entreposto de transbordo entre o barco e o comboio para domar o Tejo, então sem pontes, e a querer boicotar a ligação norte-sul-norte. E depois, quando os alentejanos se lembraram de meterem nas suas canções de epopeia de desterrados à procura do pão que lhes faltava no <i>celeiro da nação</i> aquela do - <i>quando cheguei ao Barrero / fui no barco que atravessa o Tejo / pensei e disse / já se foi o Alentejo</i> - aquela malta intoxicada pelos fumos ácidos mais peneirenta ficou da sua posição estratégica nas vias de comunicação. É que, desesperançados de obterem reconhecimento da capital do outro lado do Mar da Palha, donde só vinha gente de mando e de vigilância (os engenheiros e os mangas de alpaca, os gnr’s e os Pides, mais os adeptos dos clubes grandes em dia de futebol), aos barreirenses restava o apreço amigo dos mais ao sul, os ainda mais deserdados, os que tinham o sonho de trocar <i>praças da jorna</i> por um emprego a acartar pirites e a queimar os pulmões sem saberem se era pior a fumarada nítrica ou a sulfurosa, porque para isso não tinham estudos competentes (do Alentejo, traziam os pulmões, a mania de reivindicar e o gosto por cantar). Por isso, a cantoria que metia o <i>Barrero</i> como ponto de clímax da epopeia dos caminhos para os tostões, era bastamente apreciado pela malta fabril. Ficou até como uma espécie de hino à importância da então vila.<br<<br>Mas o mais provável é que no Barreiro também se andasse de burro. Porque não? Eu é que não me lembro.<br><br>Pois isto tudo vem a propósito da minha intenção de comemorar o regresso prometido do Manuel Correia, barreirense como não podia deixar de ser, ao <a href=http://puxapalavra.blogspot.com/2005/03/ausncias.html>Puxa Palavra</a>, esclarecido que está um breve desaguisado entre os ilustres condóminos lá do blogue. E como não me lembro que no Barreiro se andasse de burro, encavalito o amigo Manuel numa mula em bom estado (se calhar, já mais cavalo que mula) para que ele regresse mais depressa aos seus posts e, quando for disso caso, voltarmos para aqui a embirrar sobre os caminhos na margem esquerda para o refazer deste país. O que, sendo uma promoção, talvez lhe lembre a sua obrigação de retribuir com a prosa que lhe é característica em estilo frontal e em bom corte literário.<br><br>Seja como fôr, prefiro ver o Manuel a cavalo e a pavonear-se vaidoso pelas avenidas do Barreiro de hoje que a lembrança das cavalgaduras a cavalo e com espada pendurada dos tempos negros de antanho.




Publicado por João Tunes às 18:33
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De Joo a 20 de Março de 2005
Apareça o primeiro barreirense que não é poeta! (a culpa é do Tejo). Abraço.
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