
Raul Rivero, poeta e jornalista é, entre os intelectuais cubanos vivos, um dos mais conhecidos. Infelizmente, não pela sua obra. A sua notoriedade prende-se sobretudo com o seu sofrimento por excesso de sombra de falta de liberdade na Ilha das Caraíbas.
Às seis da tarde de 20 de Março de 2003, a polícia política cubana foi a sua casa para o enfiar na prisão (momento registado na foto que ilustra este post). Dia após dia, mais 74 cubanos (jornalistas, outros opositores) acompanharam Raul Rivero nas masmorras cubanas, ultrapassando em mais de trezentos o número dos prisioneiros por delito de opinião. Julgado sumariamente, acusado de conspirar contra o regime castrista a soldo de uma potência estrangeira, Raul Rivero foi condenado a vinte anos de prisão. Como então Raul Rivero já tinha passado dos sessenta anos de idade, a pena aplicada tinha alta probabilidade de se transformar em prisão perpétua, sabendo-se o que se sabe das péssimas condições prisionais em Cuba, dos maus tratos aplicados aos presos e das deficientes condições de alimentação, higiene e assistência médica. Raul Rivero adoeceu e viu a sua saúde a degradar-se dia após dia. Afinal, talvez não fosse prisão perpétua a pena aplicada mas uma mitigada e lenta pena de morte o que o Comandante Ditador pretendia como sorte para Raul Rivero.
No mundo, há quem não silencie os crimes da ditadura cubana. Nem todos metem mordaça na consciência em nome do apego mítico e sentimental às gestas de Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Fidel Castro, ao romantismo das façanhas dos rebeldes barbudos do Granma e da Sierra Maestra, à heroificação de quem quer que bata o pé ao imperialismo norte-americano, exigindo-lhes adicionalmente que mereçam o preito devido para com a libertação não dando depois pontapés nas canelas e na cabeça da liberdade, não substituindo uma opressão por outra opressão. Uma enorme campanha internacional, com destaque para os
Repórteres Sem Fronteiras, exigiu a libertação de Raul Rivero e dos seus companheiros encarcerados.
No início deste ano, sobretudo como fruto da campanha internacional e das diligências do governo Zapatero, Raul Rivero e mais alguns saíram da prisão em regime de suspensão de cumprimento de pena. Não tendo beneficiado de amnistia, Raul Rivero foi libertado precariamente com uma dívida de 18 anos de prisão por cumprir. Tal liberdade em Cuba era insuportável. Uma linha escrita que fosse, uma entrevista que desse, poderia levá-lo de volta ao cárcere sem necessidade de simulacro de julgamento, "apenas para cumprir os 18 anos em dívida". Uma liberdade oprimida, pois.
Há pouco tempo, Raul Rivero exilou-se em Espanha. Tem convites vários para escrever em jornais espanhóis. Afirmou que não quer ser bandeira nem concentrar a sua vida na actividade política. Diz não esquecer os seus companheiros ainda encarcerados, nem os demais que, na sua pátria, não conseguem respirar a liberdade. Provavelmente, a sua poesia vai florescer e vai enriquecer-nos com os seus poemas. Talvez agora, Raul Rivero venha a ser, finalmente, mais conhecido e reconhecido por aquilo em que ele é mais talentoso como poeta e como jornalista. Só por isso, valeu a pena a persistência dos que, politicamente incorrectos face ao maniqueísmo de uma certa forma de se ser de esquerda, lutaram para que Raul Rivero pudesse escrever em liberdade. Pese embora, o limite dessa liberdade, pois o que Raul Rivero melhor conseguiu, no seu direito a ser um homem livre e digno, foi passar de prisioneiro a exilado, arredada que está a possibilidade de ser, nos tempos próximos, um cubano livre em Cuba.
Luís Cino, um amigo e companheiro de Raul Rivero, jornalista também, diz que não se
despediram quando ele abandonou Cuba a caminho do exílio espanhol. E di-lo em palavras que dizem muito:
Não houve despedida. Os poetas não dizem adeus quando partem. A sua poesia fica sempre, acompanhando-nos.(quem quiser ler o artigo de Luís Cino sobre Raul Rivero, consulte aqui)Adenda: Este post teve direito a destaque
aqui. Agradecido.