Tendo lido a crónica de Fernando Rosas (sim, é claro, também leio os
bloquistas
) na sua crónica desta semana no
Público, dei-me conta da inauguração em
Coimbra, com pompa e circunstância, na coimbrã
Praça dos Heróis do Ultramar, de uma estátua de enaltecimento guerreiro aos feitos portugueses na guerra colonial. Segundo Rosas, a estátua mete uma G3 nas unhas de um soldado de bronze, ao mesmo tempo que este segura, na outra mão, um
pretinho (decerto salvo da sanha de recrutamento de um
turra). A cerimónia foi presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Coimbra Carlos Encarnação (PSD), também ele um antigo combatente (sei-o por prefácio lido em livro de memórias de um Coronel na reserva). Para não deixar de dar lustro à cerimónia, uma Brigada do Exército prestou honras e a Banda Militar da Região Norte tocou a preceito as marchas do costume. A notícia do evento, vinda no
Público, tinha o título solene e apologético de
Uma estátua contra o esquecimento. Nem menos.
Esta é uma peça, serôdia mas perigosa, do processo do
revisionismo sobre o colonialismo e a guerra colonial. E é de somenos saber-se se o modelo do soldado guerreiro imortalizado em Coimbra foi algum
comando do massacre de Wiriamu, um
fuzo da invasão da Guiné-Conacri na Operação
Mar Verde ou um desgraçado fardado à força e metido em beligerâncias defensivas da sua pele e próprias da
tropa macaca. Quem sabe até se o escultor se inspirou em alguma fotografia minha perdida e do meu tempo de
guerreiro na Guiné. Conta, mais que o modelo, a intenção e a visão histórica pretendida. Ou seja, o prolongamento, passo a passo, da estratégia montada por Paulo Portas, quando Ministro da Defesa, em virar a história colonial de pernas para o ar, dando alento ao orgulho castrense na sua participação numa guerra de conservação de conquista. Querendo fazer esquecer o óbvio que devemos a liberdade do 25 A exactamente porque aquela foi uma guerra sem honra, contra a história e sem vitória possível. Uma guerra tão absurda, tão absurda, que transformou oficiais colonialistas em oficiais anti-fascistas.
Eles não desarmam. Desarmamos nós, os
Outros?