Mari Alkatiri, um dirigente democraticamente eleito mas deposto por um golpe de Estado, o político que, segundo “uma grande amiga do povo de Timor”, o «povo - por justas e injustas razões – odeia» (muitos referendos esta senhora deputada – a da “quota feminista” - deve fazer pela socapa sem que nós e os timorenses disso se apercebam), o homem que caiu em desgraça quando tentou colocar, nos negócios do petróleo, os interesses de Timor acima dos interesses da Austrália, da Indonésia e de Portugal (lembram-se das vozes que gritaram “ingratidão” quando a Galp não venceu o primeiro concurso de concessão de exploração?), acrescido ao crime gravíssimo de professar religião diferente numa parte de ilha que o Vaticano pretende que seja fortaleza católica num arquipélago islâmico, demonstrou que, pesem embora pecados e erros possíveis e mais que prováveis, foi e é o único político timorense visível com sentido de dignidade de Estado, capaz da humildade de abdicar para que o mal maior, a guerra civil, não queime o que ainda sobra de Timor Leste.
Xanana, o balhelhas prisioneiro político da esposa australiana; Ramos Horta, o cínico maior do oportunismo todo-o-terreno; os bispos e padrecas da cruzada das sotainas nos mares das Índias Orientais; a deputada intervencionista incapaz de conter os excessos verbais a mandar “SMS” no uso de um telemóvel incontinente; Cavaco Silva, o que reiteradamente ofende uma nação soberana ao referir-se-lhe como “território”; Sócrates e António Costa, os cow-boys rápidos a puxarem pela GNR do cinturão do mando com tiques neo-coloniais; todos podem ganhar, com a Indonésia ou com a Austrália; todos podem gabar-se de ter ajudado a deitar abaixo Mari Alkatiri e a Fretilin; todos podem gritar, ufanos, que ajudaram a que mandassem os interesses em vez da legitimidade e da força do voto; mas nunca chegarão aos calcanhares do Vencido, à bainha da sua dignidade. Da mesma forma que a memória política de Kissinger merece toneladas do desprezo necessário para se poder honrar a memória de Allende. Continuam a haver homens grandes na forma como são derrotados ou se deixam derrotar. Honra, pois, a Mari Alkatiri. E que Timor o mereça. Se for sem ele (o que não são favas contadas, ó Dona Ana Gomes!), que dele se aproveite o exemplo.
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