Afastado das notícias, tento recuperar algumas das novas atrasadas, quando não perdidas. Leio, não sei onde, que o Vaticano recomendou aos funcionários católicos espanhóis dos Registos Civis que, invocando a objecção de consciência, se recusem a cumprir a lei aprovada que permite o casamento entre homossexuais. Com firmeza, e se necessário, pelo martírio da perda de emprego.
Com isto, a Igreja irá, estou certo, porque certo estou do sentido de obediência católica dos crentes nesta crença, coleccionar mais uns tantos santos na sua colecção, obrigando a um ciclo terrível de desgaste profissional ao bom do nosso Cardeal Saraiva o sumo-sacerdote da burocracia dos processos de santificação. Com a novidade de ser feito um justo e adequado up-grade das categorias de santidade, agora alargada ao segmento dos desempregados aqueles que, por amor ao Vaticano, desacatem as leis ímpias do demo Zapatero. O que alarga o conceito sacrificial da Santa Madre Igreja aos deserdados do campo trabalhista.
Se, até agora, santo ou santa não eram (disparate!) quem tinha salários em atraso, sofreu o assédio patronal para rescindir o posto de trabalho, foi penalizado pela militância sindical, sequer a escriturária despedida porque deu uma estalada no director que lhe apalpou o rabo, não sendo de ligar ao contratado a prazo não renovado porque se inscreveu no sindicato, menos ainda aqueles que queimaram noites em vigília para que o patrão não levasse as máquinas da empresa falida para outra aberta ali mesmo ao lado, excomungado devendo ser o que deu um tiro nos cornos porque aos quarenta anos lhe disseram que estava velho de utilidade profissional e tinha de dar lugar aos novos, agora, certo e seguro, teremos santificados os funcionários que se ofereçam em martírio à recusa na consagração contratual dos homo-casamentos em Espanha, na velha e eterna Espanha que herdou a abençoada cruzada franquista. Já não era sem tempo, digo, que a santidade se lembrasse de contemplar o mundo laboral.