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Estou contra o plano em marcha de admissão da Turquia como membro da União Europeia.
Aliás, a proposta é exótica e o seu suporte mais consistente, misturando alhos com bugalhos, é a antiguidade da Turquia como membro da NATO, em que faz mais o papel de fornecedor de bases geoestratégicas que outra coisa. Verdade seja dita que a Turquia não tem nada a ver com o Atlântico e a sua admissão na NATO foi um entorce revelador da filosofia de guerra fria que orientou a criação da NATO.
Por um lado, a parte europeia da Turquia é pouco mais que simbólica. A Turquia é um país asiático e toda a sua cultura, hábitos e costumes são estranhos à civilização europeia. Com mais razões se pode considerar europeia a Rússia (outro país bicontinental).
O alargamento a esmo da União Europeia, tão frágeis que são ainda as últimas integrações e evidentes as exclusões que persistem, só pode acentuar as suas debilidades e transformar o projecto da construção europeia num dossier faz de conta.
Por outro lado, o regime turco tem ainda graves nódoas para limpar para que a sua candidatura pudesse, por hipótese, ser encarada as opressões de arménios e curdos, a situação em Chipre. E por falar em Chipre, seria um absurdo admitir a Turquia como estado membro da UE enquanto a recente admissão de Chipre só implicou a sua parte grega (ficando a parte turca excluída por imposição dos cipriotas gregos). Também a eventual adesão da Turquia ia avivar feridas, nomeadamente nos Balcãs, e potenciar inimizades com servos, croatas, montenegrinos e macedónios, estes sim bem mais próximos do contexto cultural europeu.
O argumento esgrimido a favor da adesão é bem conhecido com a Turquia
dentro da UE este país estaria mais
controlado no sentido da sua aproximação ao modelo democrático e diminuiriam os riscos de cair nos braços do fundamentalismo islâmico. Como se sabe o que verdadeiramente se pretende aproveitando a embalagem da pertença à NATO, é transformar a Turquia numa ponta de lança islâmica (moderada, colaborante, amiga dos ocidentais) contra os estados islâmicos adversos. Mas um e outro argumento desfiguram a UE como projecto, transformando-a em expediente geoestratégico. E isto é o empobrecer definitivo do projecto de unificação europeia, tão trôpega que se encontra no seu caminhar.
A Turquia pode e deve ser ajudada a consolidar a sua laicidade (sempre tão periclitante) e a sua modernização (na economia, no relacionamento social, nos direitos humanos, no funcionamento de instituições democráticas, no abandono de práticas genocidas e opressoras para com as suas minorias) mas nada disso contorna a realidade asiática da Turquia.
Se a Turquia for admitida na UE, temo que os defeitos de um Estado (sob pretexto de os controlar) sejam transformados em bons argumentos de adesão à Europa comunitária. E, a partir daqui, perde-se o critério da virtude democrática, abrindo-se caminho a que os
piores se cheguem à frente na fila de espera (qualquer dia, integra-se a Líbia para ter mão no Kadafi
). Tanto que há a fazer na consolidação da integração dos Estados recentemente admitidos, na preparação e ajuda às nações intrinsecamente europeias, porquê a história da Turquia? A UE como braço civil da NATO?