![image010[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/image010[1].jpg)
Longe de mim a intenção de discutir ou polemizar à volta de precisões teológicas. Muito menos com o
amigo Alex que se mostra entendido na poda e corrigiu os dados que aqui apresentei num post (Nilo e Sinai - 29) sobre a religião copta praticada pela minoria cristã no Egipto.
No entanto, alertado pela chamada de atenção e não querendo dar guarida a falta de rigores que até podiam redundar num mau olhado ou perda de lugar na bancada da santidade eterna, fui conferir tudo direitinho. Da frente para trás e de trás para a frente. E conclui que acho que afinal não pequei na oração, presunção que se junta à certeza anterior de nunca, nesta matéria, ter pecado por intenção.
Confirmei e agora mantenho que a religião copta se consolidou na implantação do cristianismo no Egipto sob o manto protector do domínio romano no século IV dC (embora os cristãos se tenham refugiado no Egipto desde o início da sua perseguição pelos romanos), irradiando a partir de Alexandria, identificando o cristianismo como rotura com o paganismo egípcio e que, nomeadamente, levou a vários eventos de fortes marcas adopção de um nova escrita (também chamada copta e que era uma miscelânea da antiga língua egípcia mais inspirações romanas e gregas, tinha o alfabeto grego como base e a substituir o uso dos hieroglíficos); adopção do cristianismo copta como religião oficial e em consonância com a sua adopção imperial pelos romanos; tentativa de destruição dos sinais da civilização egípcia pagã (de que hoje restam marcas na picagem de símbolos, inscrições e figuras em alguns templos e degradações provocadas pela utilização profana de alguns outros).
É na luta pela hegemonia entre Alexandria e Bizâncio, no quadro do Império Romano do Oriente, que se gera o cisma entre as duas igrejas, em que a orientação copta é considerada heresia sob pretexto da sua não aceitação do dogma da Santíssima Trindade (uma espécie de conceito do divino a três dimensões Pai, Filho e Espírito Santo). A partir daqui, estabeleceu-se um papado autónomo em Alexandria que orienta esta confissão e que sobrevive até aos nossos dias mas que, no essencial, questão da Santíssima Trindade à parte, adopta uma concepção e um ritual com mais proximidades que diferenças relativamente ao catolicismo e às confissões ortodoxas.
No século VII dC dá-se a ocupação árabe e o processo de islamização. E são os árabes que criam o termo copta (de kopta) e que significa apenas egípcio, como forma de identificar o povo a dominar. A partir daqui, até aos nossos dias, o islamismo é adoptado como religião oficial egípcia (iniciando-se o período de minorização, com períodos de repressão, dos crentes coptas). A isto juntou-se a adopção do árabe como língua e escrita no Egipto e a marginalização da expressão copta falada e escrita.
Apesar de a maioria dominante árabe-egípcia/islâmica e a minoria egípcia/copta viverem muitos séculos em coexistência, existiram sempre tensões entre as duas comunidades e confissões. Um sinal disso é que se construíram mesquitas ao lado de todas as igrejas coptas, vincando a dualidade, e outro foi, com o aparecimento virulento do fundamentalismo islâmico no Egipto, a crispação e a intensidade de hostilidade para com os coptas que ainda é visível nos nossos dias e que deu lugar a migrações de muitos monges eremitas coptas para o deserto montanhoso da Península do Sinai (embora o principal símbolo religioso cristão ali perto do cume do Monte de Moisés seja o Mosteiro de Santa Catarina, cuja confissão é de filiação ortodoxa grega e onde vivem quarenta monges em permanência e todos eles cidadãos gregos).
Convido o
Alex, que me acusou de falta de rigor em história religiosa, a fornecer dados contraditórios dos ora invocados. Caso contrário, ele deve dar o braço a torcer, confessando a fragilidade da sua contradita e que, se não me punha a pau, me podia valer ter de curtir imerecidamente penas no purgatório (o copta, segundo a lógica).