Para quem já fez - pelo menos - cinquenta anos, ou seja, aqueles que acordaram com consciência adulta ou pré no 25 de Abril de 1974, sabe bem as longas milhas de distância à frente que as mulheres portugueses caminharam na conquista da sua emancipação e afirmação plena. A 100% por mérito delas, imposto pulso a pulso. Para mais, com serenidade e classe, sem estardalho, impondo uma mudança cultural profunda, insofismável e irreversível. Na rua, nos lares, no emprego, na sociedade, na política, na cultura. Mudança que representou um dos aspectos mais marcantes de modernidade ganho pela sociedade portuguesa e, em comparação com o quer que seja, foi a maior “conquista de Abril” e mais ajuda a entender a componente ridícula e troglodita do regime e da cultura longamente tecida pelo “Botas” e pelo seu companheiro Cerejeira.
Pela minha admiração e culto para com a marcha das mulheres portuguesas, sou radicalmente contra as “quotas” e as “paridades” impostas para queimar etapas no caminho que ainda falta fazer (que é muito, ainda!). Porque entendo que, as “quotas” e a “paridade”, são um retrocesso pela via da menorização das mulheres. Fazendo-as recuar à condição de “espécie protegida”, coisa adequada ao lobo da Malcata, aos caranguejos de Melides, aos lagartos do Cabo Espichel, às garças de Alcochete, às aldrabas das portas antigas, às moscas das ETAR, aos mosquitos das praias da Caparica, aos touros do Campo Pequeno (incluindo os que defendem que eles merecem morrer na arena e não no matadouro), mas não, por nunca ser, à espécie humana feminina.
A “lei da paridade” aprovada na AR merecia o caixote do lixo, devido ao seu reaccionarismo travestido. Cavaco teve a arte de condenar a lei com fundamento correctos e depois vetar pelo seu aspecto menor (nas consequências) – as sanções para os prevaricadores. Uma verdadeira sentença de felisteu. Ou, dito em registo rasca, uma punheta jurídico-constitucional. Própria de um provinciano incorrigível a quem a habitação do Palácio fronteiriço à Praça do Império nada acrescenta á sua condição de lupen cultural incapaz de ler a modernidade. A forma servil e manhosa como o Grupo Parlamentar do PS se “encostou” ao veto presidencial (“sim senhor, vamos já dar um retoque nessa coisa das sanções”…), confirma o pior do Centrão que cresce assustadoramente no cinzento do País. Tudo ao serviço da concórdia Cavaco-Sócrates, mais que tudo, mais que o País, a sua cultura, os seus avanços, a sua modernidade.
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