
Digam-me lá se alguma vez leram de alguém que falasse do
frio assim:
Está frio, uma rijeza escorrida, seca, que se entranha. Gosto deste tempo que nos perscruta severamente o canastro. Como gosto da ternura do olhinho do sol no aconchego da empena da casa. A dádiva calorenta do astro rei. E gosto desta luz crua, nítida, das dez da manhã. Da hora que trás o odor do pão fresco acomodado no talego da tia Maria, que passa debruada a escuro, preto mesmo. Que passa e sorri a generosidade de um bom dia. A nobreza de um bom dia que partilha mesmo com os que mal conhece, com os que não lhe são nada. Que não lhe são nada, mas que lhe são tudo, porque sempre os alcançou como humanos iguais e garantes da sadia convivência que aprendeu no berço e levará até ao final.
É deste frio confortavelmente afável que eu gosto. Desta humanidade antiga que sabe nos outros, mesmo nos que não lhe são nada, a companhia indispensável ao calcorrear da estrada da vida. Mesmo que apenas seja no partilhar da migalha de um caloroso bom dia.Pois, o Príncipe dos prosadores da blogosfera, encontra-se
aqui. Vénia comprida com requebro do salamaleque. Só pode.