Esta quadra é péssima para se lerem jornais e revistas. Parece que os conteúdos já estão enfardados de azevias e rabanadas e a arrotar a consoada, balanço do ano para aqui, figuras em destaque para lá, patati, patatá, muito santo natal, para o ano como será.
A revista Visão desta semana não foge à regra. Mais pobre que o costume. Mas inclui uma admirável reportagem (texto de Luís Ribeiro e fotos de António Xavier) sobre a imigração ucraniana em Portugal, feita cá e lá. Excelente, limpo e completo trabalho. Aconselho vivamente.
(Verdade que sou suspeito, porque guardo um encanto nostálgico por Kiev, apesar de só lá ter estado durante 2 dias. Pela abertura larga da cidade, com um rio grandioso, pelos espaços verdes, porque Kiev me lavou os olhos da fealdade de Moscovo. Sobretudo pelos olhos claros dos ucranianos a pedirem melhor sorte que o peso da pata russo-soviética (estive lá nos anos oitenta e as coisas já rangiam nos gonzos).)A reportagem dá para pensar e ver a imigração eslava sob diversos ângulos. Uma imigração (sobretudo da Ucrânia) que escolheu Portugal como destino prioritário. E, pela forma discreta como eles penetraram e se instalaram no nossos pacato mundo, ninguém dirá que já serão
100.000 os que por cá labutam. Na maioria, gente de muito trabalho, caladinhos a amealhar economias e remessas. Ajuda a entender a herança do
socialismo real e as consequências da sua implosão, como permite perceber melhor porque é Kiev se transformou agora numa
cidade laranja. E um país que está tão mal que escolhe terras portuguesas para se desenraizarem como emigrantes. Mas em que a esperança não morreu.