![17palacio1786[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/17palacio1786[1].jpg)
Não me canso de sublinhar o incansável e excelente trabalho do
Jorge Neto para nos trazer África, sobretudo a Guiné-Bissau, aqui para a frente dos nossos olhos. E simpatizo com a forma descomplexada, procurando fraternidades sem salamaleques de cooperante a procurar equilíbrios entre deus e o diabo, como ele olha as vivências dos africanos na realidade que partilha.
No seu regresso de férias natalícias europeias, subiu-lhe de novo a espécie de vergonha provocada pelas assimetrias entre a Europa rica e a África muito pobre. E disse, com palavras onde se cheira a sinceridade:
Não consigo deixar de me chocar com a diferença entre África e a Europa. A vida, as pessoas, o espaço, o tempo... São dois mundos tão distantes que quase parecem estar em dois locais distintos do universo e não no mesmo planeta a tão pouca distância. Já aqui escrevi o quão chocante é levantar voo de Lisboa e aterrar em Bissau. São apenas quatro horas de viagem, mas o pouco tempo basta para nos apercebermos que ligámos dois mundos (duas civilizações?) opostos. Um onde quase nada falta, outro onde quase nada existe.
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Perguntava-me alguém há uns tempos, como podemos nós, ocidentais, lidar com a nossa condição, sem nos sentirmos culpados por isso? Será que nos devemos sentir culpados? Porque temos nós tudo e outros tão pouco ou nada mesmo? O que podemos fazer para diminuir esse fosso? E como fazer para não tornar esse fosso cada vez maior? Enquanto penso na resposta comparo a realidade. Com os meus olhos e através de fotos. Ainda não encontrei a resposta. Continuarei à procura.Sobre os prurido limpos do
JN, deixo-lhe esta dica: eu e ele, muitos outros, provavelmente estimamos mais os guineenses, os angolanos e os moçambicanos que Nino, Kumba Ialá, Dos Santos, Chissano e Guebuza. E teremos mãos mais limpas para mostrar e vidas honradas para certificar, que seríamos incapazes de desprezar (fiquemos por este termo benigno) estes povos como, malfadadamente, eles o fizeram e fazem.
Sobre as saídas, as coisas complexam-se, está bem de ver. Mas a definição da estratégia pertence aos africanos, com a condição prioritária de afastarem, primeiro que tudo, a corrupção para fora do assunto. E, se o
JN me permite a ousadia de uma recomendação, proponho-lhe que não deixe de ler o último livro do
Professor João Mosca, moçambicano migrado aqui a dar aulas no Instituto Piaget (não somos só nós que mandamos professores para África, também temos africanos a dar aulas na Europa). O livro chama-se
SOS África (Edição do Instituto Piaget colecção Economia e Política). Um dia destes, do livro falarei. Entretanto, dou-lhe tempo para o ler, sem lhe meter nos olhos o filtro da minha opinião. Quem sabe, entre gente que gosta de África e dos africanos, tenhamos aqui um bom motivo para cruzar reflexões. Não para zurzir em passados, mas antes ajudar a pensar nas saídas. Porque é de saídas, mais que de flagelações e de auto-flagelações, que África está precisada.
Adenda: E se me permite a ironia, olhando para a fotografia que lhe roubei e reproduzo, em que péssimo estado está o Palácio onde o
Caco governou como se fosse um Vice-Rei...