Para certificação ISO, ou o que seja, meto-me em testes para confirmar se, por via de mais voltas que revoltas, ainda estou na banda esquerda do alinhavo. Uma mania como outras de não querer virar a banda do casaco. Embora confesse, já e de entrada, que o corte da lapela é cada vez mais social-democrata por nojo do peso de acartar gulags esquecidos e adormecidos no bolso, mesmo que embrulhados em utopias com fresquidão de caldo verde que azedou com cheiro de entrar nariz dentro.
Na ida para o teste, desvio-me logo da zona da esquerda faz-de-conta, aquela que é esquerda de direita na prática. Essa esquerda mole de rosa que só é esquerda quando oposiciona, mas é direita, como a outra direita, quando manda. A merecer socrático ostracismo. Isto, enquanto demora o jogo democrático e antes que venha a revolução. Porque quando da hora de a esquerda mesmo esquerda chegar ao poder, ou a esquerda mole se funde na esquerda dura, tomando juízo de conversão, ou pena onde qualquer direita deve penar e para onde Fidel sabe encaminhar.
E entro na esquerda mesmo esquerda. A pintada pelo Manuel Tiago. Ou pintalgada pelo Leon que, um dia, teve o azar de tropeçar com a cabeça numa picareta empunhada por Ramón - um camarada do outro. E assisto a como eles campanham na campanha. Que é mais que cristalino. Corre-se tudo de lés-a-lés. Onde há abaixo-assinado, subscreve-se. Onde há exigência, apoia-se. Onde se quer aumento, aumento se quer. O que está fechado, abre-se. O que está aberto, fecha-se. Nem o Vasco tem direito a velhice, leva com xarope de muralha e fica como um cadete fresquinho a arrotar a ferrugem, mete-se no torno e já está para as curvas. Ao fim e ao cabo, fácil é. Que o diga o Fadista de Abril ou o Francisco dos sorrisos de crianças. Porque isto de votos, eleições e parlamentos, são os croquetes e gambas de entrada enquanto se espera o banquete da revolução. Até lá, convém não gastar as solas no empedrado da governação. E quanto pior melhor. Mais contradições haverá, sabendo-se que as contradições são as mães das resoluções. Haja tempo. Pois, haja tempo. Chiça para o peditório.
Sem diploma ISO, cá de esquerda me vou imitando que sou.
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