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114 anos são passados sobre a revolução (melhor dito: tentativa revolucionária) que foi a primeira grande efervescência de um ciclo de desgosto em que a degradação monárquica se tornou insuportável.
Foi no Porto esse género de golpe das Caldas republicano que (ao contrário do outro, o das Caldas propriamente dito) demorou quase vinte anos para se tornar numa mudança de regime em que o que estava mais podre foi para o lixo. Passamos, desde aí, a viver em república. E, pelo meio, ainda foi necessário que
Buiça desse a sua ajuda e à sua maneira, directa e pragmática, de limpar o lixo de mando que estava a mais. O que não resolveu todos os problemas, longe disso. Talvez, nem sequer, os mais prementes. Mas dispensou-nos dos salamaleques perante a desatinada forma marcada pela cor do sangue. A partir de 1910, perdeu-se a desculpa sobre a culpa das tonterias, os portugueses ficaram plebeiamente entregues a si próprios, desatinaram mais que acertaram no uso da cidadania republicana, porque de jacobinos pouco além passámos, depois cansaram-se dela, deixaram que os da Autoridade (da Finança, da Farda e da Sotaina) a usassem como valor absoluto, perdendo, de novo, a cidadania durante quarenta e oito anos. Porque veio um professor da reacção coimbrã, ensinar que, para endireitar as finanças, havia que meter a liberdade cidadã no
prego. Depois, tivemos a recuperação breve de festa com cravos até andarmos nesta nova entrega de cidadania delegada em tonterias santanetes de governação. Mas perdemos, definitivamente, a desculpa de termos um rei tonto como bode expiatório. E cá nos vamos entendendo. Mais ou menos, mais ou menos. E, felizmente, Buiça foi Único (e Otelo que o quis imitar, não passou de uma miserável imitação, longe, muito longe, da dignidade redentista, patológica mas redentista, do original).
Visto a esta distância, o 31 de Janeiro de 1891 pouco mais parece que um grito de vontade de resgate em dizer basta no orgulho ferido pela sede de domínio de outros mais coloniais que a nossa pequenez nos consentia. Mas, como grito de revolta de orgulho nacional perdido, vale muito. Porque muito pouco é o nosso património de vaidade. Na maior parte da sua história, Portugal tem a vergonha de andar atrás dos passos e devaneios de Senhoritos da Esperança, transferindo-se, na esperança, para eternos </i>Sebastiões</i> - os Professores que sabem, podem e mandam; o Spínola do monóculo e pingalim; o Vasco das muralhas inox; o Álvaro dos amanhãs reservados a camaradas firmes; o Otelo da utopia feita bomba a redimir o seu passado legionário; o Soares bonacheirão que meteu o socialismo na gaveta que equilibra com o seu bloquismo octogenário; o Eanes com a ambição de ser um Perón com patilhas a cavalgar pelas lezírias; o Louçã da superioridade moral padreca dos donos dos sorrisos de meninas. E uma convicção me atravessa, neste momento breve de lembrar o 31 de Janeiro aquilo foi coisa de valentes, uma força vinda de baixo. Foi obra sobretudo de sargentos, mais popular pois que quando a dignidade chegou à cabeça dos nossos capitães redentores, muitos anos passados. E foi no Porto. E quando o Porto desce ao seu povo, deixando de lado os santinhos que os amarram ao arroto provinciano servido com os ademanes burgueses dos meninos e meninas da Foz, vem ao de cima o que de melhor temos. Cuidem-se os poderosos quando o Porto acorda no que tem de melhor e se esquece dos Caudilhos que o apequenam na miragem da grandeza da divisão e da diferença. Para o bem e para o mal, uma revolução portuense é sempre uma revolução. Mesmo quando é um prefácio de libertação, como foi o 31 de Janeiro.
Confiei que a efeméride de hoje, levasse os meus amigos e companheiros portuenses a celebrarem, pelo menos em catarse, uma das suas heranças nobres que a todos nos redimem, na memória, de más horas vindas de Braga (de onde tanto é capaz de partir o militarão do Gomes da Costa, um Arcebispo a dar guarida a bombistas, uma Universidade cheia de dinâmica, até ao pacato civilista Professor Jesualdo, armado em São Jorge a espetar uma lança no Dragão). Estou cá para ver. Tomarei atenção aos blogues de portuenses que se lembrem de comemorar, com convicção, a data que merece ser um dos maiores orgulhos de uma cidade de tão valente e decidida gente, mas que peca, sobretudo, pelos erros da distracção e da derivação.
De Joo a 1 de Fevereiro de 2005
Estimada IO, Viva a República, sempre!
De Joo a 1 de Fevereiro de 2005
Caro Werewolf, já vi o seu excelente post. Mas os portuenses têm de ser mais lestos com as suas coisas boas... (sobretudo quando estão mais folgados das suas festarolas do sempre a aviar). Abraço.
De IO a 31 de Janeiro de 2005
E eu vou por baixo e cumprimento, também, o autor do texto! Vou roubar-te o Buíça _ abraço, VIVA A REPÚBLICA!!, IO.
Olá João, eu ando atrasado devido ao trabalho que tenho tido, mas não esquecerei de referir o 31 de janeiro, pode é ainda levar 3 ou 4 dias, mas depois do seu post pouco fica para dizer,
Parabéns.
Abraço.
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