A revelação-coqueluche desta campanha, em termos mediáticos, é, sem dúvida, Jerónimo de Sousa. E, assim, alguma razão terá Louçã para se queixar da perda de colo nos
media.
O relacionamento popular como se o País se tivesse transformado numa
Festa do Avante, os fatos de feira de subúrbio, os sublinhados através de ditos e provérbios, o vazio desesperante do discurso melódico-romântico dos
ontens que cantaram, o apelo nostálgico à tristeza dos excluídos, a cara larga com sorriso de fivela e a manápula de antigo
polícia militar, transformaram-no num estereótipo em que se reconhece na ribalta política aquele canalizador prestável que nos salvou a casa da ameaça de inundação quando uma torneira da cozinha deu o berro. Tornando num
facto excitante, para mais numa campanha sensaborona, a proeminência de um dos
do povo metido em altas cavalgadas política, à mistura com doutores e engenheiros. E o patético da sua perda de voz em pleno debate só veio realçar esse lado de
sociedade recreativa que Jerónimo introduziu na campanha, ou seja, a desigualdade social servida no banquete da alta política. Porque só um
pobre cairia ali no estúdio e em directo, derrotado pela afonia. E mesmo um
rico gosta de ter pena dos
pobres porque precisa disso para salvação da alma (desde que o pobre não lhe exproprie os bens, é claro).
Mas, no fundo, o
truque Jerónimo não passa de uma expressão da mais rotunda
duplicidade. Porque se a sua imagem
simplória passou e passa é porque a
marca PCP, que ele levantou à mais alta expressão façanhuda no último Congresso, levaram à expectativa de que dali ia sair agressividade e intolerância. Entrado em campanha, Jerónimo quis fazer passar a imagem do
duro dentro do Partido e
simpático e tolerante quando desce à rua. Ao fim e ao cabo, uma forma de
populismo. Porque deste há de todas as cores e também se pode pintar de vermelho.