
Realizou-se recentemente em Lisboa uma reunião do Conselho Geral da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD), uma das organizações internacionais criadas pelos soviéticos para aglutinar “frentes” que servissem os interesses da URSS enquanto grande potência e do movimento comunista internacional a ela subordinada, entre as poucas que ainda sobrevivem. Actualmente, na sua marcha moribunda de satélite de um astro desfeito, a FMDJ, tocando o ponto mais baixo de audiência e representatividade, entregou a sua presidência à Jota do PCP.
Segundo o “Avante”, o conclave lisboeta dos jovens saudosistas internacionais do comunismo reuniu “80 delegados de mais de 40 organizações de juventude de países de todos os continentes do globo, representando as várias organizações membro do FMJD”, com destaque para a “presença de delegados de organizações que escolheram e constroem sociedades diferentes, alternativas à exploração e à injustiça, como Cuba, República Democrática e Popular da Coreia, Venezuela, Vietname e Zimbabué”.
Guloso como é pela oportunidade que nunca desperdiça de botar discurso, Jerónimo de Sousa não defraudou tão nobre tribuna perante tão empedernidos democratas, como são os que controlam as juventudes partidárias em Cuba, Coreia do Norte, Vietname e Zimbabwé, para lhes explicar como são as dores da democracia nestas terras portuguesas:
«Em Portugal há uma intensa campanha ideológica e um poderoso ataque às liberdades e garantias democráticas, aos direitos das organizações juvenis, às associações de estudantes, ao direito de organização e de manifestação dos jovens portugueses, ofensiva inseparável da limitação às liberdades e aos direitos dos trabalhadores em centenas de empresas e locais de trabalho», afirmou, acusando o Governo, «com uma Lei dos Partidos e do Financiamento dos Partidos», de querer impor ao PCP «um funcionamento diferente daquele que livremente decidimos ter».
«É para dar resposta a isso que no próximo dia 1 de Março realizaremos uma grande manifestação em Lisboa, uma Marcha pela Liberdade e Democracia, uma afirmação do direito à organização política livre e consciente, uma afirmação de liberdade», anunciou, o secretário-geral do PCP.
Imagem: Jovens quando enquadradas no “sistema socialista mundial” (ex-Checoslováquia). Provavelmente, esperando a esperança num amanhã menos chato, sem fardas nem fardinhas.
De Van Aerts a 12 de Fevereiro de 2008
Devo agradecer-lhe a oportunidade de poder ler tanto do Avante. Se nao fosse este espaço seguramente nao o iria consultar.
Um efeito preverso sucede no entanto, graças a si possilvelmente o jornal do PC poderá ter mais assinantes pois nao só eu mas igualmente pessoas que me sao próximas encaramos com seriedade a possibilidade de assinar um jornal que nos proporciona momentos verdadeiramente divertidos, sonoras gargalhadas e que nao encontramos á mao pelo facto de sermos emigrantes.
P.s. Se calhar existirá apenas um assinante que o recebe e destribui aos restantes interessados porque o que é de mais, é moléstia.
Caro Van Aerts,
Posso pertencer à irredutível minoria dos que leem metódica e assiduamente o Avante (talvez reflexo de honra à minha meninice e juventude em que os recebia e passava, dobrados no volume mínimo que o "papel de arroz" tão bem permitia, com o coração aos saltos por causa dos olhares indiscretos). Hoje, naturalmente, o Avante virou pasquim sectário de uma fracção que domina o PCP. E é esse o seu interesse documental de hoje, enquanto prova autenticada do enorme embuste de duplicidade que o PCP exibe nas barbas da democracia portuguesa. Enquanto no Parlamento, nos blogues, na comunicação social, nas lutas sociais, o PCP se arroga a mais virginal da essência democrática do regime (e seu vigilante-mor), o Avante continua a ser a descarga catártica de um estalinismo serôdio, foleiro e aventureiro que, pela forma canibal como se exprime, faria corar Cunhal, um exegeta do marxismo-leninismo e seu cultivador na forma asceta e asséptica, elitista também (quase aristocrática) e que era própria de um "príncipe de Moscovo". E julgo deveras interessante, até para perceber a actual comunicação em política, como esta duplicidade passa e resulta (embora, felizmente, em termos de eco eleitoral não atinja o segundo dígito). Num jogo de enganos, politicamente aceite como correcto, o PCP pode ser urbano, civilizado e exigente (aceitando a democracia e só querendo mais democracia) quando "fala para fora", mas tem de contentar o seu alter ego estalinista, o que mantém a união entre hostes, através do Avante, fazendo a catarse interna da impaciência revolucionária, das sedes de ódio de classe, da irresistível atracção pela ditadura iluminada que os exalte como minoria que são vanguarda, do seu olhar de alianças pelo mundo procurando desesperadamente apoios e alianças, não se coibindo de se apoiarem, e apoiarem, os assassinos, ditadores e bombistas (numa corruptela espantosa da tradição de exigência revolucionária que sempre alijou o aventureirismo e o terrorismo como praticantes revolucionários. E também uma reprodução esquizofrénica da realidade social e política que compense o discurso dualista do PCP, procurando regredir para o estereótipo serôdio do fascismo/antifascismo, encenando-lhes um quadro heróico em que eles lutam hoje - com eleições, Parlamento e grupo parlamentar do PCP - numa realidade de neo-fascismo (pior que o velho-fascismo, na medida em que os fascistas de hoje são os irmãos-traidores socialistas).
Finalmente, confesso-lhe o que mais me dá gozo ao citar o Avante: é, cada vez que o faço, ter um ou vários comentadores a bramar que citar o Avante, transcrevê-lo, é manifestação de peçonhento anticomunismo (repare na baba derramada aqui pelo "Lucia Lima"). O que é prova que eles, os fiéis de pala jerónima, usam mas não suportam a dualidade que criticam. Há aqui uma interessante deslexia psicológica que vai acabar mal: ou os iranianos atiram rápido a bomba atómica e eles, e nós, nos vamos a cantar a Internacional e a ler o Corão, não havendo nem capitalismo nem socialismo para ninguém, ou eles acabam todos reunidos a eleger o Comité Central e o Secretário Geral no Júlio de Matos. Mas, talvez em última esperança de saída saudável, eles encarrilem após lerem melhor, com mais vagar, o Carlos, o Frederico, o Vladimir e o Álvaro (e o Suslov, sobretudo o Suslov, o genial Suslov, o pragmático Suslov, o que subiu ao Secretariado com Estaline, acompanhou Krutchov até o derrubar, reinou com Brejnev e ainda sobreviveu no olimpo com Andropov, morrendo com o fato do Politburo, tão manhoso que foi ideólogo e santo protector do Álvaro no altar do Kremlin).
De Lucia Lima a 12 de Fevereiro de 2008
Tanto anticomunismo já começa a feder!
De Alex a 12 de Fevereiro de 2008
Lucia Lima, tenha tento e... vá fazer um chazinho!
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