Aqui, o Cavalheiro d’Oliveira fala bem, embora já tenha falado melhor. Deu-lhe para uma de estadista, daqueles que, de régua e esquadro desembainhadas, fazem a quadrícula dos países versus povos, etnias, culturas e vontades. Como aqueles outros que, em Conferências que a história nos guarda na memória, para garantia de paz e equilíbrio, construíram países e os impuseram, como, em exemplos, a Checoslováquia e a Jugoslávia. Ou como outros ainda, os de Ialta, que definiram o que devia ser a Polónia passada de vencida a liberta tutelada (encolhendo para a Rússia e compensando com bocados alemães), ou a Roménia que viajou de vencedora até vencida (comendo à Hungria o que perdeu para a Rússia), ou a Alemanha, a grande vencedora transformada em grande vencida, a que não só encolheu em vários lados como teve de absorver os muitos milhões de retornados corridos a pontapé pela Ialta consumada. Mais o grande tabu de que todos os arranjos de vencedores eram ponto assente quanto a fronteiras. Pela paz, pelo equilíbrio e pelo risco dos maus exemplos e dos processos em cadeia.
De facto, Berlim, Ialta e a guerra fria, reconfigurada a Europa, cristalizada em sílica trabalhada da Boémia em vários fóruns de vencedores, ofereceu a ditaduras a gestão das fronteiras críticas. E os gajos tiveram mão rija a lidar com as veleidades relapsas, com o único senão de não conseguirem durar sempre. Caídas as ditaduras do equilíbrio, surgem os problemas. E salta o ai Jesus que vem aí o dominó mais o seu conhecido efeito. De caco em caco, tarda nada temos problemas no Algarve ou na Ribeira portuense.
Mas, por mim, o que acho mais admirável nesta Europa actual (cada vez mais amanuense por mor de Bruxelas), quando as utopias, as réguas e os compassos se desusam por mau uso, e que me perdoe o Cavalheiro d’Oliveira, é que os do Kosovo, sabendo perfeitamente que o seu país não é viável (Tito e Milosevic disso trataram), queiram ser independentes e sobre isso não admitam discussão. E vão ser. Pese embora (admirável utopia nova), tratarem primeiro da libido da independência e só depois dos negócios da solvência. Irracionais estes kosovares. E perigosos, pelo exemplo inflamatório. Mas são kosovares. Essa é que é essa.
De d'oliveira a 20 de Dezembro de 2007
Meu Caro João |Tunes
chame-me tudo menos estadista.
Os kossovares só o são por terem religião muçulmana. Pelo menos um terço dos actuais terá vindo como emigrante da Albania o que não é crime
Por outro lado também me parecem ser kossovares os cerca de 400.000 sérvios actualmente refugiados na Sérvia. Pela razão simples de terem nascido no kossovo e de serem filhos, netos e bisnetos de gente aí nascida. De resto como sabe, o Kossovo é considerado o berço da nação servia e já agora o local de duas tremendas e memoráveis derrotas militares dos sérvios cristãos no sec XIV ou XV já não sei bem.
O que eu digo é que o modo como o problema está a ser tratado tem todos os ingredientes para causar mais outro problema balcanico. E a Europa sabe isto tão bem que até oferece a adesão à Sérvia em troca da sua boa vontade.
não disse mas concordo que o Kossovo não tem viabilidade como país. A menos que a causa kossovar seja apenas um disfarce de uma pan Albania como já foi aventado.
concordará todavia que a solução independentista põe em causa toda uma série de países e regiões e não apenas as da Europa central. Falei da Espanha e da França e da Itália e poderia acrescentar a Irlanda onde um Ulster de forte maioria protestante (60-40) verá justificada a não inclusão na republica irlandesa.
Eu tenho sobre o nacionalismo uma ideia porventura herética mas que é a seguinte: nunca é bom, sequer em dose moderada.
Passei pelo Kossovo no longínquo ano de 1975 e já na altura havia problemas só que dessa vez eram os sérvios que apanhavam. Na época a Jugoslávia ou quem nela mandava até achava bem a pressão albanesa muçulmana. E sobretudo havia a ideia de que se não devia ofender o vizinho Enver Hodja.
V tem uma ideia diferente. suponho que ambos sobreviveremos a esta discordancia. a democracia é isso mesmo. Mas creia que eu não a prwetendo instaurar de regua e esquadro. apenas penso alto e por escrito. Espero viver o suficiente para verificar se estou errado ou certo. Até láa confesso-lhe que n~ão tenho a certeza que V parece ter na solução independentista.
Caro d’Oliveira,
O seu comentário ainda me parece mais de “estadista” que o post que colocou e me surpreendeu pelo pretendido equilíbrio geopolítico, com cristalização de fronteiras ditadas, assente num preconceito que acaba de reconhecer, o do anti-nacionalismo (preconceito que colide com o princípio da autodeterminação). Eu não tenho qualquer certeza sobre a “via independentista”, a não ser quando ela se manifesta, é vontade colectiva. Sobretudo, se sufragada de forma limpa, como é o caso do Kosovo (provavelmente, um primeiro passo para o passo seguinte: a construção da Grande Albânia). Defendo que a vontade legitimamente expressa de um povo se juntar ou separar não pode ser questionada, e se for impedido, esse, sim, será um complicado foco de tensão (expresso ou recalcado na espera de solução). Ah, e garantindo-se os direitos das minorias étnicas e culturais (caso da minoria sérvia do Kosovo). Na antiga Jugoslávia, em Espanha, no Cáucaso, na Bélgica, onde acontecer. E nem Praga nem Bratislava arderam quando a ficção checoslovaca ardeu e os anti-nacionalistas se calaram. O que acontece, agora, é que a ficção Jugoslávia ainda não terminou. Aceite até chegar ao Montenegro, indigesta quando cheia aos feios albaneses. Ora!
Saudações companheiras.
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