De um (mais um) excelente post da Drª Lolita:
O mais inquietante de toda esta bizarria é que isto tudo ameaça ser o futuro próximo da (des)protecção social dos mais desfavorecidos, seja por doença, procriação, vício ou handicap. Quem se fragiliza, sai do sistema. Liberalismos à parte, que isto nem sequer obedece a qualquer ideologia (ou pseudo-ideologia) que suscite oposição ou censura.
João, do ponto de vista do direito, o post pode fazer algum sentido. do ponto de vista médico, nenhum. só lhe falta começar a falar da saliva e do suor e das lágrimas. de sangue, já agora....
Não entendi quem está ou o que está a contraditar. Será o médico do trabalho que, segundo a lolita, "O médico de trabalho, por exemplo, que se borrifou para o sigilo profissional e divulgou a natureza da doença à entidade empregadora. Não contente com isso, emitiu informação escrita atestando a incapacidade definitiva do trabalhador para prestar o trabalho apesar de tudo e também apesar de o médico que assistiu o cozinheiro o considerar apto para trabalhar."?
João
a função do médico do trabalho é garantir que um doente está no lugar adequado à sua doença. para o resto, existem os outros. assim, ele transmitiu ao patrão que na sua opinião aquele doente não devia estar naquelas funções. é isso que todos os medicos do trabalho fazem qualquer que seja a doença, certo?
e quanto a mim, ele tem razão. eu também não concordo que o lugar seja adequado. não por causa dos "fluidos corporais", mas por causa daquilo que é a evolução natural da doença, da possibilidade de infecções oportunistas nomeadamente a tuberculose que tem aumentado dramaticamente na população não infectada. este homem tem um risco real de reactivação da tuberculose(tinha ja estado de baixa um ano por causa disso) em fases de maior fragilidade. a tuberculose, relembro, é, sim, um problema de saude pública.
Só à laia de desabafo, lamentavelmente, nunca houve por parte da associações de doentes uma campanha para consciencializar os infectados de que, alem de se protegerem, devem proteger quem os rodeia. não. a defesa, e a consequente desresponsabilização, sempre!
outra coisa, cuidado com a defesa da postura dos "coitadinhos que não dizem porque seriam marginalizados". é esta postura que os leva a não dizer à mulher, ou ao marido, aos contactos sexuais que têm, e que tem contribuido para que sejamos um dos paises da europa com mais novos casos de HIV. os infectados, têm que se convencer de uma vez por todas de que têm uma DOENÇA INFECCIOSA e que isso têm consequências.
muitissimo mais se poderia dizer dos riscos que um infectado pode fazer os outros correrem, das infecções possiveis e tudo isso, mas, ficaria aqui até amanhã..
conclusão, o mais correcto seria ele ter falado com o patrão e ter pedido mudança de funções. ninguém precisava de saber. mas não, fechou-se em copas e borrifou-se nos outros, que é o que geralmente acontece.
beijos
Obrigado, Cristina, por justificar a sua posição. No meu entender, mantêm-se questões nebulosas na decisão judicial e no seu implícito apoio a ela. Sobretudo sobre o ónus da probabilidade de infecções parasitas (critério tão rigoroso que, a ser aceite, teria de ser estendido a todos os quadros clínicos e que, provavelmente, levaria a uma limpeza eugénica na população trabalhadora). E julgo que o relevante, no caso, foi uma estigmatização socialmente adquirida relativamente à sida (por associação de práticas pecaminosas na aquisição da doença).
João
as infecções oportunistas existem e é por causa disso que Portugal temos a tuberculose a aumentar dramaticamente na população não HIV.
um doente HIV não tem as mesmas possibilidades de a contrair e transmitir, tem claramente muito mais. é com isso que temos que conviver e é sobre essa realidade que temos que actuar, parece-me.
não vale a pena andar com paninhos quentes, só piora a situação.
Cristina, a sua posição está clara. A minha também. Até ao próximo "papo".
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