Direi mesmo mais que o Manuel Correia: o JPP não é parvo, nadinha, mas sabe e nem sempre o diz, que teve a oportunidade, que outros não tiveram ou não aproveitaram, do “dois em um” - combater o fascismo através do exagero equilibrante e bipolarizado de querer malhar, ás vezes mais que na ditadura, no social-fascismo, o dos rivais. O que lhe terá proporcionado, mais a sorte e as circunstâncias, eventualmente alguma condescendência adicional dos repressivos, a síntese perfeita de sair do maoísmo para os braços do PPD. Sem passar pela prisão ou pelos dedos sem lei de um pide. Neste aspecto, a acrescer a inúmeros talentos de que sou seu confessado admirador, JPP é um homem com uma enorme sorte ideológica e que lhe proporcionou a integridade física e uma boa carreira intelectual e de que hoje, todos, recolhemos os frutos. Concordando ou discordando com os azeites intelectuais com que acorda em cada dia.

Peniche pode ser, agora, a solução mais viável para a museologia da memória da repressão do clerical-fascismo português. Admito-o. Mas se o é, por se ter perdido a oportunidade de o fazer na Rua António Maria Cardoso, a sede e coração da PIDE, isso só nos pode envergonhar pelo desleixo a lidarmos com a memória. Porque assino por baixo as palavras sábias e sensatas (e é esta sensatez que admiro – a que não sujeita a dignidade a operações de câmbio) do Manuel Correia:

“Pela sede da PIDE, na António Maria Cardoso, onde se centralizava o terrorismo de Estado, - e onde os pides, no próprio dia 25 de Abril de 1974, desesperados, ainda mataram 4 pessoas e feriram outras 45, antes de se renderem - passará sempre um vento de derrota do regime. Era ali que os agentes do Estado Novo se sentiam em segurança; ali processavam as informações provenientes de uma vasta rede de informadores; ali torturavam afirmando que a lei não alcançava aqueles andares…”

E isto vale menos que os lucros imobiliários? Pobre povo que cansado de ser de uma nação valente já não se quer imortal. A não ser na bola, valha-nos isso, onde tão mal (ainda) não se trata Eusébio.