Há escândalo com a leitura pública nas escolas francesas da carta que o jovem comunista e resistente Guy Môquet, com 17 anos e em 1941, na véspera de ser fuzilado pelos nazis, escreveu aos seus pais. Grande parte da fervura do escândalo tem a ver com a proveniência da instrução para a leitura vir do Presidente Nicolas Sarkozy, um sujeito que provoca alergias políticas, algumas automáticas, incluindo as pavlovianas.
Que os neo-nazis, a gente de direita extremada, os descendentes políticos dos colaboracionistas com Vichy, se abespinhem, entende-se. Agora que o repúdio alastre esquerda dentro ao ponto de se considerar o acto como anticomunista, tratando-se da homenagem (discutível quanto à forma, como qualquer homenagem) a um jovem comunista caído na luta contra o nazismo e pelo comunismo, é coisa de espantar. O que não se diria se, em vez da carta de Guy Môquet, fossem lidas as loas obrigatórias que, numa certa época da União Soviética, se difundiam entre crianças e adolescentes sobre o herói-mito nacional do “pequeno bom cidadão soviético” que denunciou à polícia política de Estaline o seu pai para que este fosse preso e fuzilado como “contra-revolucionário”, para que lhe seguissem o exemplo de delação, incluindo dentro da família, como prova de perfeita vigilância partidária e patriótica?
(a carta de Guy Môquet pode ser lida aqui)
Imagem: Homenagem póstuma a Guy Môquet, após a libertação da França.
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