Uma força partidária que exerce uma ditadura de partido único, num país onde está praticamente ausente qualquer prática de segurança social, onde uma minoria reduzida de trabalhadores tem direito a pensão de reforma, onde a desregulamentação do trabalho é absoluta, onde não é permitida a acção sindical, onde os direitos humanos não são reconhecidos, onde ser mulher é socialmente tão desclassificado e penoso que muitas mães matam as bebés-meninas, onde não há liberdade de imprensa nem acesso irrestrito à Internet, onde se utiliza massivamente a pena de morte, no país mais envolvido na globalização através do capitalismo mais selvagem, esteve reunido em congresso. E recebeu esta saudação "calorosa" de um partido português:

Em nome dos comunistas portugueses, o Comité Central do Partido Comunista Português saúda calorosamente o XVII Congresso do Partido Comunista da China, formulando os melhores votos de sucesso aos seus trabalhos e à acção dos comunistas chineses em prol do desenvolvimento e progresso social, fortalecendo o objectivo proclamado da construção de uma sociedade socialista.

Esta saudação foi publicada no mesmo dia em que uma manifestação, apoiada pelo mesmo partido que saudou a ditadura chinesa, se insurgia contra os atropelos aos direitos sindicais, por melhores condições laborais e contra a “flexisegurança”. Aqui, em Lisboa, em Portugal, para ser vista e ouvida por Sócrates e pela União Europeia. Quanto ao fundamento, abrangência, vigor e significado da manifestação, tratam-se de factos evidentes que não podem deixar de ser tidos em conta. O que se dispensava era o oportunismo dos dúplices contumazes.