Haver Internet há, pois há, mas agora fica em descanso. Que isto, quando lhe dá, também cansa. E quem cansa, descansa. Senão não tem gosto voltar-lhe. Para mais, espera-me terra para mexer e remexer, verde herbáceo para dar lustro ás unhas e preencher-me as rugas dos dedos, mais as minhas árvores, pequenas e frágeis, para eu as namorar e dar-lhes sumo para a seiva porque secura não é seguro de vida, vida fraca que seja. E conto-as, as minhas pequenas árvores, tão minhas, tão delas, pelos dedos, beijando-as (sobretudo) ás escondidas, fixando-lhes rebentos e filhos pequenos, todos gémeos e todos diferentes, sofrendo com as suas percas e rugas de desdita, mesmo que vegetal. Estarei, penso nisso tanto, a ficar vegetal, podendo assim morrer da morte pior que é morrer-se verde que não é cor própria para deixar luto bom como herança, mesmo que seja riscado só para disfarçar através de luto de armanço de visconde enrascado a vender palacetes em saldo. Mas não deixa de ser bonito que um vermelho de condição se perca em amores nas verduras. Exótico, pelo menos. Ou não, nem isso?
Gostando de árvores, amando-as a vê-las crescer, fazendo as vezes dos livros que não escrevi nem vou escrever, não perco tino com o resto da vida. A poesia, melhor dizendo. E aqui, paro sempre no meu poeta maior, esse mesmo (podia ser outro?) – Carlos Drumond de Andrade. Que tão bem cantou as árvores, outras árvores, mas árvores também. Como esta(s):
No corpo feminino, esse retiro
" a doce bunda " é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
Pois tanto mais a apalpo quanto a miro.
Que tanto mais a quero, se me firo
Em unhas protestantes, a respiro
A brisa dos planetas, no seu giro
Lento, violento... Então, se ponho tiro.
A mão em concha - a mão, sábio papiro,
Iluminando o gozo, qual lampiro.
Ou se, dessedentado, já me estiro,
Me penso, me restauro, me confiro,
O sentimento da morte eis que adquiro:
De rola, a bunda torna-se vampiro.
E, é claro, bom fim-de-semana para todos vós. Gozem e façam gozar. Não se metendo em preguiças e deixando as árvores em espera de seca. E às bundas, ditas poesia, muito menos. Até já.
OS MEUS BLOGS ANTERIORES:
Bota Acima (no blogger.br) (Setembro 2003 / Fevereiro 2004) - já web-apagado pelo servidor.
Bota Acima (Fevereiro 2004 a Novembro 2004)
Água Lisa 1 (Setembro 2004 a Fevereiro 2005)
Água Lisa 2 (Fevereiro 2005 a Junho 2005)
Água Lisa 3 (Junho 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 4 (Outubro 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 5 (Dezembro 2005 a Março 2006)