Recebi um “e-mail” que muito gostosamente transcrevo. Foi-me enviado por um dos muitos militares que, em 25 de Abril de 1974, ajudaram Portugal a sair da “longa noite”. Não nomeio o autor (embora devidamente identificado) porque a isso não fui expressamente autorizado. Não publicito também as palavras de simpatia para com este blogue que vieram juntas mas não pense o amigo leitor que isso seja sinal de falta de agradecimento. É que a edição de um blogue comporta tanto insulto anónimo cobardola que é preciso aturar (por vezes, apagar) que me sinto na necessidade de, em equilíbrio, conter a exuberância dos apreços para que a “coisa” não se mostre demasiadamente narcísica. Mas saiba, caro militar de Abril, que gostei de o ler, agradecendo-lhe inclusivé o naco de simpatia do apreço.
O depoimento vale pela emoção, genuína, mais ainda pela mensagem oportuna e que julgo de significado para com os “apropriadores dos cravos” e para, não menos, os que, pretextando isso, justificam doença alérgica ás flores da (nossa) liberdade. Vamos, pois, ao assunto comentado: “Abril , os Cravos e os seus Donos”:
“Por falar em 25 de Abril, cuja comemoração (ou será melhor dizer recordação) foi recente e, também, porque falou em cravos, gostaria de recordar qual o significado dos cravos. E faço-o, porque hoje é moda discutir os cravos, símbolos do evento, como representando uma esquerda caduca e ultrapassada que os ostenta. Quem alimenta essa discussão, tentando torná-la um facto político ou, mais grave ainda, tentando hipotecar o tema dos cravos à politiquice, fá-lo porque não entendeu nada do significado do 25 de Abril (ou quer desvirtuá-lo).”
“Os cravos no dia 25 de Abril foram não da esquerda, não da direita, não do centro; foram dados e usados pelo povo que saiu à rua, que não arvorava cartões partidários, que não tinha outra arma ou bandeira senão o cravo. Sei e senti os cravos apartidários que mãos, sem rosto nem cartão, colocaram nos "tapa-chamas" das G3 que eu e muitos jovens como eu, que militavam nas Forças Armadas, íamos recolhendo, como fiéis depositários, nas operações que efectuámos no 25 de Abril. Essas pessoas e os cravos não estiveram apenas no Carmo; estiveram, também, em Sete Rios (junto à antiga escola da PIDE/DGS), na Rua da Misericórdia (junto à Censura) e, em tantos outros lugares por onde andei e, onde certamente muitos dos que alimentam a discussão que falamos, nunca lá estiveram. Os cravos não são, portanto, de ninguém em particular, mas de todos os portugueses em geral. E são apenas dos portugueses que vibraram com o 25 de Abril, enquanto acto libertador dum regime. Esses perceberam o 25 de Abril e, por isso, os cravos são seus.”
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