Concordo. Não há mal nenhum que duas comunidades étnico-culturais que não conseguem coexistir no mesmo Estado, fazendo da rivalidade modo de vida, se separem. Pelo contrário, como Estados vizinhos, talvez flamengos e valões se venham a respeitar e entender. E concordo igualmente que a dimensão não é argumento para obrigar a uma fusão forçada. Aliás, as autonomias legislativas entre as três partes belgas (incluindo a autónoma Bruxelas) já há muito que levou a disparidades adquiridas que tornou quase artificial a unidade estatal. E, no caso de haver uma cisão belga, só encontro dois problemas a exigir imaginação para as soluções: um problema grosso – o estatuto a sobrar para Bruxelas; um problema de somenos – o que fazer a um Rei tornado inútil.

A história recente da Europa pós-comunismo, dá-nos bons exemplos de separações desejadas e conseguidas. Qual foi o drama na separação entre checos e eslovacos? E da reconquista da independência pelas nações bálticas e pelas outras que, finalmente, se libertaram do jugo russo-soviético? Os Balcãs só atingiram algum sossego quando o penúltimo dos Estados da artificial Jugoslávia (o Montenegro) atingiu a autonomia total. E a tensão que subsiste na região deriva da falta de solução para o último naco “jugoslavo” que a mão sérvia não quer largar (o Kosovo). E, nos escombros do império soviético, o problema continua, em termos de nacionalidades, a residir na Tchechénia tratada a ferro e fogo pelos generais do Kremlin.

O caminho dos ódios e das guerras está mais nos casamentos à força (normalmente com predomínio de um dos consortes) do que nos divórcios. Antes uma Europa fragmentada que a viver no alvoroço dos ódios caseiros. Brevemente, as “bélgicas”? Mais o Kosovo? Depois as “espanhas”? Haja a paz de cada qual se sentir bem na casa que habita. Nas pessoas como nas nações. Porque as nações não deviam ser mais nem menos que um grupo de pessoas que querem viver juntas, auto-governando-se.