
O assunto parece gasto mas julgo que a discussão sobre o essencial apenas começou. A questão dos transgénicos necessita mesmo de ser debatida. Caso contrário, sobra, na opinião pública, uma luta entre preceitos e preconceitos, tudo à molhada. E as demagogias adoram estas confusões.
Se há um quadro legal que já permite a cultura de vegetais transgénicos em certas condições, decerto a fundamentação do seu suporte passou ao lado da opinião pública, atendendo ao impacto conseguido pela história da selvajaria no campo de milho de Silves. Que teve dois efeitos conexos: a condenação dos “ecovândalos”, a par do avolumar do nojo e medo pelos produtos transgénicos (o que, objectivamente, constituiu uma vitória dos “eufémios” e do Bloco, ambos com motivo para dar graças pela mediatização do assunto). Sendo assim, o Ministério da Agricultura deve dar todos os esclarecimentos que se impõem e a comunidade científica deve-nos proporcionar o máximo debate contraditório. João Vasconcelos Costa, cientista no ramo da biologia molecular e estudioso da transgenia, já deu, na blogosfera, o seu contributo para este peditório. Venham outros, de preferência divergentes. Ou seja, menos algazarra, menos pânicos, mais argumentos, mais fundamentos. Pela minha parte, estou mais para ler e ouvir que para sentenciar.
A ”confusão transgénica” e o desencadear dos nojos e receios empolados (muito do que se esgrimiu contra é do domínio do apocalíptico) - e sobre isso Louçã foi claro na entrevista televisiva a Mário Crespo -, tem uma marca de ódio político pré-determinado: o “combate às multinacionais” (no caso, o alvo focalizado é a “Monsanto”). Ora, este constrangimento diabolizante é o primeiro elemento para perda de tino no debate a fazer, inquinando-o pela politização da moda anti-globalização. É antiga a fortíssima presença das multinacionais na indústria e comércio agro-alimentares e muito anteriores à implementação das técnicas de modificação genética na produção de cereais. Como é um facto que os transgénicos estão já correntemente incorporados sem lugar a escândalo. Há quantos anos se usam, por todo o mundo, produtos da Nestlé e da Kellogs, entre muitos e muitos outros? E os anti-Monsanto preferem dar lucros à Bayer para que esta multinacional químico-farmacêutica continue a vender em barda, com efeitos terríveis na contaminação dos solos, os seus agro-químicos? E toda a súbita legião anti-Monsanto, porque é contra as multinacionais, não anda de automóvel, se usa não mete gasolina, não toma flocos nem yogurtes, não compra nada na Zara nem envergou uma t-shirt da Nike, recusa-se a tomar qualquer medicamento, não lava os dentes nem se ensaboa no banho, não come pão (os fermentos vêm de multinacionais) e não é consumidor da dietética soja (maioritariamente já produzida como espécie transgénica)?
A demagogia e o ódio político selectivo que fiquem à porta. Venha o debate.
Joâo
Tinha obrigação de saber algo sobre esta história dos
transgénicos, mas, não sei muito.Sei que as sementes
tal como no milho híbrido,apenas servem para uma
sementeira.Mas,mudemos de assunto,é sabido que há
vinte,trinta anos,um frango demoraria atingir 2kg à
volta de 8 semanas,sendo que hoje,devido ao melhoramento genético,conseguimos atingir aquele
peso às 5-6 semanas.É também sabido,que este
melhoramento genético,além de melhorar o índice de
conversão,contribuiu para uma maior resistência a
algumas doenças,que não vou agora enumerar por ser fastidioso.Há um preconceito enraizado,que diz ser um frango de capoeira,explorado extensivamente,
mais saudável,que um explorado intensivamente,ou
seja,criado num aviário industrial.Pura crendice,
sanitáriamente,um frango industrial,com todas as
melhorias genéticas,é muito mais seguro que um frango de capoeira ou de campo.O mesmo poderá ser
dito sobre um ovo dito"caseiro"e um ovo industrial,
enquanto este cai numa passadeira,relativamente
asséptica,o outro cai no meio dos dejectos das galinhas e,sabemos como a casca é porosa,principalmente com humidade mais elevada.
Voltemos ao milho transgénico,sobre o qual sei pouco,
neste momento,mas,se por exemplo,a semente contém um gene resistente ao"agriotes"ou broca do
milho,isso é uma óptima notícia,evitamos encharcar
o solo com um insecticida,sabendo como grande parte
deles são tóxicos e,contaminantes dos lençois friáticos
Esta guerra não é nova,aconteceu coisa parecida, na
altura da introdução dos híbridos em contrposição aos
"regionais"só que naquela época não havia grupelhos
ditos ambientalistas,com tendências fundamentalistas
e,terroristas.
Mas,passo a bola aos cientistas e investigadores,que
já apareceram nesta página.
Abraço
Paulo,
Não sou um dos cientistas a quem voce se refere, mas trabalho em uma agroindústria que comercializa soja e milho, além de também plantar estes dois produtos. Aqui no Brasil ainda não temos o milho transgênico de forma representativa, mas a soja já tomou grande parte desse negócio.
E neste caso o resultado de uma semente de soja trangênica é soja transgênica e depois os sub-produtos farelo e óleo degomado de soja transgênico.
Se é um facto a vantagem de não se usar os habituais "venenos", também já se sabe que a semente de soja transgênica não reage de forma natural. Um exemplo comprovado no Brasil é que a mesma não suporta da mesma forma períodos de estiagem como uma semente convencional, havendo uma queda de produtividade na colheita maior na áreas plantadas com a semente transgênica.
Agora, gostaria de levar a questão um pouco para o outro lado, que também fica na grande batalha do capital, por vezes perverso. A soja transgência surgiu no Brasil, em regiões especificas, quando ainda não era autorizado pelo governo braileiro o plantio da mesma. Assim foi pela América do Sul. Por uns anos, a Monsanto ficou quieta, até que a sua tecnologia, de forma "pirata", se consolidasse. Hoje, ganhou junto aos tribunais destes países, como no Brasil, que as empresas que recebem o produto dos agricultores tenham a obrigação de se certificar se o mesmo pagaram os royaltes das sementes; se não, tem estes comerciantes a obrigação de cobrar estes royaltes e repassar para a Monsanto. Posso afirmar que é um grande negócio. E ainda vos digo mais. Tem a Monsanto o direito de entrar na empresa que eu trabalho, ou qualquer uma que esteja dentro da cadeia de comercialização (no recebimento / armazenamento do produto) para fazer auditorias, solicitando relatórios contábeis em uma atitude similar a uma fiscalização do estado.
Técnicas de colocar o produto no mercado do tipo Windows...Se foi o Bill Gattes que aprendeu com a Monsanto ou o inverso, não sei, mas que os dois estão cheios da massa, estão.
Um abraço aos dois.
O abraço não foi nem para o Bill nem para a turma da Monsanto, e sim para o Paulo e para o João.
:)
Olá ´Zé Paulo(cidadão do mundo)
Claro,para a Monsanto,isto tem que ser um negócio
chorudo,como foi o "Round Up"esse herbicida"milagroso".Não discuto esse assunto,vejo
que estás mais dentro dele.Há anos que não lido com
milhos,estou bastante desactualizado,mas sei,quanto
à estiagem,como vocês dizem no Brasil,é certo que
um milho FAO 700,por exemplo,tem necessidades de
água muito superiores a uma variedade convencional,como tu dizes,ou regional como dizemos
aqui.Também é certo, apesar desse gasto superior de
água,o rendimento para o agricultor é extremamente
significativo e,devido a isso as variedades regionais,
quase cairam em desuso.Claro,nos milhos hibridos,
também a Dekalb,a Maisdour,a Pionner,ganham rios
de dinheiro,mas o que podemos fazer?É a contrapartida do melhoramento genético.
Um abraço para ti e para o João que pôs a página à
disposição para o debate.Ainda hei-de ver um quintal
com milho no Seixal...
Olá, Paulo!
Veja que há uma diferença estratégica cercial importante entre um produto como o "Round Up" e a "tecnologia" de uma semente transgência.
O herbicida voce compra em uma loja / comércio de produtos agrícolas, usa, acaba, e quando precisar de mais compra de novo. O fabricante haverá que ganhar, muito ou pouco, não discuto (também gosto de ganhar dinheiro, de forma honesta). Mas veja que no caso de uma semente de soja convencional, nas suas diversas variedades, que também são vendidas em lojas / comércios agrícolas, depois de plantados e colhidas os produtores (agricultores) podem fazer uma seleção do melhor grão que colheu, fazer um tratamento adequado, e usar como semente para a próxima safra, diminuindo assim os seus custos de produção. No caso do grão trasgênico, o que é que acontece? O produtor que fizer isso terá que pagar os royalties, de no caso do Brasil de 2% a 3% do valor de venda da soja in natura da região em que o mesmo foi colhido.
Então façamos uma an´lise bastante simples. Como foi importante para a Monsanto a entrada no mercado brasileiro e sul-americano em geral, da semente transgênica de forma "pirata", pois hoje mesmo sem custos de produção dessa semente a Monsanto estará ganhando royalties por tempo indeterminado, e ainda conseguindo fazer com que as empresas privadas sejam obrigadas a trabalhar para as mesmas para controlar essa produção e para fazer essa cobrança dos tais royalties onde de forma unilateral se define uma taxa administrativa para que lhes prestem este serviço. Você não acha isto um grande negócio? Não se pode até acreditar que quem mandou para o Brasil e restante da América do Su as tais sementes "piratas", quando por aqui ainda não era autorizado o plantio da mesma , possa ter sido a própria Monsanto? Tirando esta minha última colocação, que é uma "suposição", o resto que eu aqui lhe conto é a pura realidade.
Na verdade não é a semente que é transgênica. O negôcio é que me parece ser transgênico.
Grande abraço.
De Zé Paulo a 25 de Agosto de 2007
cercial = crucial
O resto não corrijo...rsrsrsrsr
De nelson anjos a 24 de Agosto de 2007
A lucidez e a preocupação de honestidade e rigor de João Tunes – descontando algumas manifestações daquilo a que chamo TPD (Trauma Pós Dissidência), que ficou a afectar de forma permanente o comportamento de muitos ex-militantes do PC – fidelizaram-me como leitor deste blog.
Daí que o meu primeiro comentário seja precisamente para referir o sentimento de estranheza pelo que me parece algo contraditório: por um lado a manifestação da disponibilidade para “... estar mais para ler e ouvir que para sentenciar...” e, por outro, o espírito do restante texto do post que me parece razoavelmente impregnado de posições já estabelecidas à partida: preconceitos.
Ok, finalmente percebi o que estava, realmente em discussão, voltarei a passar por aqui.
Obrigado Paulo e Zé Paulo pelos vossos contributos.
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