Queixa-se o Marcelo Ribeiro que poucos dos seus leitores lhe escrevem. E, como acicate, plantou uma foto sua (a acima copiada), repimpado numa praia galega, em pose de distracção de leitura por, como o letrado à vista do cigano, ter um olho no livro e outro no enquadramento da objectiva. Pela estima que por ele nutro, sendo leitor compulsivo dos seus frescos escritos onde a fina e certeira ironia nunca dá nota de ausência, aqui estou a reparar a minha interrupção em pontuais mails de uma estimulante conversa que em tempos tecemos e em que nos demos um pouco a conhecer (ou a reconhecer?). Aqui vai.
Caro amigo Marcelo,
Muito folgo em o saber de volta e inspirado após as suas “férias galegas”. E tão folgado regressou que se deu logo ao trabalho de repor a escrita em dia.
Sem grande assunto de política para tratar, e assim alimentar o vício comum de a discutir (pois quanto a militâncias, o vento as levou), dei-me a cismar, pela foto sua que connosco partilhou, sobre a diversidade humana nos preceitos. É que, na parte que me toca, sendo velha aptidão minha o conseguir ler e dormir em qualquer circunstância ou condição, o último lugar onde consigo (conseguia) ler é exactamente na praia. Pela mistura com areia varrida pelo vento, pelo comichão do banho salgado a arranhar a pele, pela luz crua e demasiado forte que parece diluir as letras impressas, pelo risco do impacto da bola fugida de um pé futebolisticamente inapto e pelos gritos de mães zangadas com as criancinhas rebeldes. Mas, sobretudo, porque a concentração num livro não joga com o apelo do mar. Pois, por ser viciado na leitura e não conseguindo ler na praia, é que, por mor de padecer de uma maleita que me impede a exposição ao sol e a praia me ser interdita entre o nascer e o pôr do sol, vi alegremente certificada perante a família e os amigos a alergia que me dispensa da obrigação social de lhes fazer companhia nas idas à praia. E a isso devo o ganho de umas excelentes e proveitosas horas de leitura no preceito melhor para isso que é o sossego do silêncio e da solidão (que, infelizmente, dura enquanto dura o Verão). Assim, muito grato ficaria se me desse a conhecer o seu segredo na demonstrada capacidade sua de ler, com proveito, entalado entre uma cadeirinha e um chapéu de sol e ao som da brisa e de outros barulhos colaterais, com o mar a puxar os pés. Será por ajuda do arrepio provocado pela temperatura baixinha das águas nortenhas das praias galegas?
Abraço deste seu amigo e admirador.
Deserto da Margem Sul, Agosto de 2007
(assinado)
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Adenda: Claro que não fiquei sem resposta.
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