Volta e meia, sobretudo entre os seus e para os seus, há comunistas que falam claro, fora das máscaras da cifra usada para engano de crentes e confiantes. Sobre democracia e revolução, leia-se Miguel Urbano Rodrigues (nota: o artigo foi publicado hoje):
1 - A revolução é uma guerra; e a política, de maneira geral, é comparável à arte militar.
2 - Uma revolução política é também e sobretudo uma revolução social, uma mudança na situação das classes em que a sociedade se divide.
3 - Uma revolução é feita de uma série de batalhas; cabe a um partido de vanguarda fornecer a cada etapa uma palavra de ordem adequada à situação objectiva; é tarefa sua identificar o momento oportuno para a insurreição.
4 - Os grandes problemas da vida dos povos somente podem ser resolvidos pela força.
5 - Os revolucionários não devem renunciar à luta pelas reformas.
6 - Na era das massas, a política começa onde se movimentam milhões de pessoas, ou dezenas de milhões. É necessário além disso promover a deslocação tendencial dos focos da revolução para os países dominados.
Aplicar estas Teses ao mundo actual é um grande desafio para os comunistas.
(…)
Hoje como nas vésperas da Revolução de Outubro de 17, «a questão do poder é certamente a questão mais importante em todas as revoluções».
Afirmar que através do aparelho de Estado, numa sociedade capitalista, é possível efectuar reformas revolucionárias incompatíveis com a lógica do sistema, como a expropriação da terra sem indemnização e outras que limitem concretamente os direitos do capital é enganar o povo. A Revolução Socialista exige a destruição da máquina do Estado capitalista e não apenas o controlo do Governo através de eleições ditas livres.
Hugo Chavéz aprendeu isso na Venezuela bolivariana no decurso de uma luta de classes permanente dramaticamente marcada por sucessivas eleições, um golpe de Estado e um lock out petrolífero que paralisou o país. Uma luta tão intensa e complexa, que, apesar de esmagadoras vitórias eleitorais, a relação de forças existente, interna e externa, não permitiu ainda a destruição do Estado burguês.
Situações como a da Venezuela alertam para uma realidade que muitos intelectuais progressistas tendem a esquecer. É um erro comum acreditar que numa revolução vitoriosa em desenvolvimento a simples relação entre a maioria e a minoria decide do êxito do processo. Na sua critica a Kautsky, Lenine usa palavras duras para qualificar a atitude dos que assumem essa posição, porque ela «engana as massas».
(…)
Lenine definia a revolução como uma festa. Assim a sentiram os trabalhadores portugueses do 25 de Abril de 74 ao 25 de Novembro de 75.
Para o fundador do Estado Soviético foi muito mais agradável «viver a experiência de uma revolução» do que escrever sobre ela.
Não estarei vivo, mas acredito que a festa voltará um dia. Também a Portugal.
Se alguém disser que é exactamente assim que se pensa e para isto se trabalha na direcção do PCP, esta dirá que se trata de uma calúnia anticomunista. Mas eles são mesmo assim. Afinal, Miguel Urbano Rodrigues limitou-se a confirmar o essencial do contado por Zita Seabra quando por lá dirigia as massas. Aliás, Miguel e Zita muita coisa teriam de ter em comum - ele veio da militância anticomunista (na primeira fase do seu exílio no Brasil, em pleno fascismo, envolveu-se no combate prioritário ao PCP) para o comunismo dos fanáticos incondicionais [em 80, apoiou a lei marcial de Jaruzelski na Polónia, depois a invasão soviética do Afeganistão, foi sempre um incondicional apoiante da ditadura castrista, é um dos propagandistas das FARC (Colômbia) e aponta Chavez como o redentor da revolução no século XXI]; ela veio do comunismo fanático e desinformado para a direita e a fé em Cristo. Algures, no encontro entre os dois percursos, devem ter construído um idêntico pensamento político.
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