Os totalitarismos, por mais que tentem, e tentam sempre, nunca conseguem a eficácia total da uniformização das sociedades segundo um pensamento único. Mais tarde ou mais cedo, o medo e o conformismo abrem brechas e a polícia nem tudo consegue resolver. Foi assim na Checoslováquia “normalizada pelos tanques da amizade soviética” e na Espanha sob a pata cardada e benzida de Franco, amanhã será em Cuba a estiolar sob a autocracia policial dos irmãos Castro que se regalam a enjaular jornalistas e a livre opinião.
A propósito de um livro recentemente editado em Espanha (*) sobre a oposição estudantil ao franquismo (1939-1975), Miguel Cardina proporciona-nos um excelente texto de descida aos tempos em que Franco, mesmo encharcado em polícias e zeladores pela ordem católico-fascista espanholada, já não conseguia controlar o espírito livre que irrompia nas universidades. Como dizia o Almirante Carrero Blanco (um dos últimos gestores do franquismo), os estudantes universitários espanhóis já estavam «envenenados de corpo e alma». E se em 1973, Carrero Blancou saltou até às alturas, sugerindo o convite para “Arriba Franco, más alto que Carrero Blanco!”, 1975 não tardou a trazer a democracia de volta a Espanha, entornando-se o veneno segregado por uma longa ditadura, repartida entre militares, falangistas e senhoritos do capital e da terra, acolitados pelas missas dos senhores curas.
(*) Elena Hernández Sandoica; Miguel Ángel Ruiz Carnicer; Marc Baldó Lacomba (2007), “Estudiantes contra Franco (1939-1975). Oposición política y movibilización juvenil” - Madrid: La Esfera de los Libros
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