
O que nenhuma azia ortodoxa consegue explicar, ou desvendar, é porque carga de água Zita Seabra, sendo quem é e o que é, nunca longe do que foi, chegou a membro da Comissão Política do PCP. Então a Comissão Política não é eleita pelo Comité Central, o Comité Central não é eleito pelos delegados ao Congresso, os delegados ao Congresso não são eleitos pelos militantes?
Houve engano (ou erro de avaliação)? Então esperemos pelo memorialismo dos enganos. E pelo dos erros e desvios. Porque o que temos divide-se em memorialismo dos heróis e mártires e em memorialismo dos dissidentes. Se calhar, falta o cimento para ligar as partes. E só então se poderá avaliar quem fica bem e fica mal no retrato.
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Adenda: O Manuel Correia, sempre atento e magnânimo, que gosta de tratar estes temas no sério, nunca satírico nem com perdas de tempo inútil para gracejar (“time is socialism”), comentou este post, dando-lhe honra de anexo num seu comentário a um comentário de terceiro. Utilizou, como costume, o seu brilhante poder de recurso ao argumentário à Lampelusa ("que tudo mude para que tudo fique na mesma"). A ler (pelos pacientes dispostos a descerem até à segunda cave da disponibilidade polémica).
Caro João,
Não me ocorreu que a forma que encontrei de aludir o teu poste pudesse ser vista desse modo, mas, bem vistas as coisas, agora, acho que tens razão. Mais rodado nas lides blogosféricas, dás-te conta de pormenores que me escapam. Peço desculpa pela deselegância (tb espero que seja pontual) e agradeço o remoque.
Quanto ao resto, não me vejo numa posição com direito a precedência histórica ou filosófica, nem o reconheço a nenhuma organização política.
Parto do princípio, apenas, que as tensões e as lutas sociais não podem nem devem ser domesticadas em nome de interesses supostamente comuns. Os direitos, as liberdades e as garantias que hoje conformam a nossa república democrática, são bons (não é a opinião de todos, claro!) porque permitem que se façam ouvir as vozes de interesses não cotados em bolsa.
Na grande operação de redistribuição de recursos a que estamos a assistir, as esquerdas posicionam-se. É por aí que consigo ver os que trazem “mais esquerda” ao debate e às lutas, e os que aceitaram que os direitos de outros se subsumam na voragem neo-liberal. Sem consagrações prévias nem preconceitos revolucionários. Olhando apenas para a civilização que vai ficando...
Caro Manuel,
Claro que assino por baixo o penúltimo parágrafo do teu último comentário. E julgo que contavas com a rapidez com que puxo da caneta para o subescrever. Bastava uma atenção mínima a este blogue para se notar que aqui não se é parco (o talento a fazê-lo é que o será) em esgrimir contra os interesses cotados na bolsa politicamente correcta.
Claríssimo tb que o busilis da nossa discordância (de enfoque) está no teu último parágrafo. E em que julgo que a minha teimosia contraditória se fundamenta em que 1) não penso que várias árvores podres façam a floresta (concretamente, detestando muitos e importantes aspectos desta governação, estou longe de concordar que "este governo é o mais à direita após o 25A"); 2) penso que a responsabilidade da "pouca esquerda" deste poder está repartida - pelo PS que se esqueceu do socialismo e, pelo caminho, vai-se esquecendo dos seus pergaminhos na luta pelas liberdades e pela "muita esquerda" do socialismo dogmático sempre atenta a bramir hipocritamente contra a mínima beliscadela às liberdades enquanto se mantém ciosa do seu património dos atentados mais bárbaros a todas as espécies de liberdades.
Abraço.
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