Quarta-feira, 1 de Agosto de 2007

O que nenhuma azia ortodoxa consegue explicar, ou desvendar, é porque carga de água Zita Seabra, sendo quem é e o que é, nunca longe do que foi, chegou a membro da Comissão Política do PCP. Então a Comissão Política não é eleita pelo Comité Central, o Comité Central não é eleito pelos delegados ao Congresso, os delegados ao Congresso não são eleitos pelos militantes?
Houve engano (ou erro de avaliação)? Então esperemos pelo memorialismo dos enganos. E pelo dos erros e desvios. Porque o que temos divide-se em memorialismo dos heróis e mártires e em memorialismo dos dissidentes. Se calhar, falta o cimento para ligar as partes. E só então se poderá avaliar quem fica bem e fica mal no retrato.
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Adenda: O Manuel Correia, sempre atento e magnânimo, que gosta de tratar estes temas no sério, nunca satírico nem com perdas de tempo inútil para gracejar (“time is socialism”), comentou este post, dando-lhe honra de anexo num seu comentário a um comentário de terceiro. Utilizou, como costume, o seu brilhante poder de recurso ao argumentário à Lampelusa ("que tudo mude para que tudo fique na mesma"). A ler (pelos pacientes dispostos a descerem até à segunda cave da disponibilidade polémica).
Meu caro João Tunes,
descartados os efeitos estilísticos, cheios de marotice acidulada, não vi nesta tua adenda nada que mantenha a conversa ao nível de um 6º andar da torre das polémicas valorosas.
Regressaste da última escapadela com o “Gattopardo” debaixo do braço e insinuas estar eu a obedecer ao princípio de “Mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”?
Tratar-se-á de um processo de intenção?
Se mo aplicas, estás a faltar à verdade e a ser injusto; se é em ti que estás a pensar, acho exagerado.
Daqui, da “segunda cave da disponibilidade polémica” é o que se me oferece.
Bom regresso.
Caro Manuel,
Nem processo de intenção nem vontade de ascender ao 6º andar de (nossa?) má memória. Apenas considerar falta de elegância (evidentemente pontual) responderes a um post como anexo num comentário de resposta ao comentário de um outro teu comentador. Quanto ao conservadorismo siciliano retratado no "Gattopardo", ele veio à baila (desajeitadamente, reconheço) apenas porque conservadorismos há muitos, além do de ZS, incluindo o implícito no projecto de transformar e unir a esquerda, concentrando a responsabilidade de "pouca esquerda" na esquerda reformista e eleitoral que é uma forma de propor transformações de sentido único (exigindo-lhe que se aproxime da esquerda revolucionária, como se se tratasse de um polo de atração por direito histórico) não sujeitando ao exame crítico o papel nefasto, para a esquerda, de a esquerda revolucionária se manter fixada numa prática de PREC permanente, como se fossem os únicos com direito a serem conservadores no seu paradigma.
Abraço.
Caro João,
Não me ocorreu que a forma que encontrei de aludir o teu poste pudesse ser vista desse modo, mas, bem vistas as coisas, agora, acho que tens razão. Mais rodado nas lides blogosféricas, dás-te conta de pormenores que me escapam. Peço desculpa pela deselegância (tb espero que seja pontual) e agradeço o remoque.
Quanto ao resto, não me vejo numa posição com direito a precedência histórica ou filosófica, nem o reconheço a nenhuma organização política.
Parto do princípio, apenas, que as tensões e as lutas sociais não podem nem devem ser domesticadas em nome de interesses supostamente comuns. Os direitos, as liberdades e as garantias que hoje conformam a nossa república democrática, são bons (não é a opinião de todos, claro!) porque permitem que se façam ouvir as vozes de interesses não cotados em bolsa.
Na grande operação de redistribuição de recursos a que estamos a assistir, as esquerdas posicionam-se. É por aí que consigo ver os que trazem “mais esquerda” ao debate e às lutas, e os que aceitaram que os direitos de outros se subsumam na voragem neo-liberal. Sem consagrações prévias nem preconceitos revolucionários. Olhando apenas para a civilização que vai ficando...
Caro Manuel,
Claro que assino por baixo o penúltimo parágrafo do teu último comentário. E julgo que contavas com a rapidez com que puxo da caneta para o subescrever. Bastava uma atenção mínima a este blogue para se notar que aqui não se é parco (o talento a fazê-lo é que o será) em esgrimir contra os interesses cotados na bolsa politicamente correcta.
Claríssimo tb que o busilis da nossa discordância (de enfoque) está no teu último parágrafo. E em que julgo que a minha teimosia contraditória se fundamenta em que 1) não penso que várias árvores podres façam a floresta (concretamente, detestando muitos e importantes aspectos desta governação, estou longe de concordar que "este governo é o mais à direita após o 25A"); 2) penso que a responsabilidade da "pouca esquerda" deste poder está repartida - pelo PS que se esqueceu do socialismo e, pelo caminho, vai-se esquecendo dos seus pergaminhos na luta pelas liberdades e pela "muita esquerda" do socialismo dogmático sempre atenta a bramir hipocritamente contra a mínima beliscadela às liberdades enquanto se mantém ciosa do seu património dos atentados mais bárbaros a todas as espécies de liberdades.
Abraço.
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