Como aqui se lembra, o célebre e celerado campo de concentração de Buchenwald (junto à cidade de Weimar) funcionou não uma mas duas vezes (*):
O campo foi fechado pelos americanos em Abril de 1945. Oito anos, sessenta mil mortos.
Como a população de Weimar se fazia de novas, e que não, não tinha dado conta de nada, obrigaram os burgueses a subir à colina para enterrar os corpos.
Seis semanas mais tarde a Turíngia entrou no pacote que os russos receberam para abrir mão de parte de Berlim, e o campo foi reaberto pouco depois, para meter os "fascistas". Entre aspas, porque os processos eram muito aleatórios.
A população de Weimar continuou a não se dar conta do que ali se passava, até que, alguns anos mais tarde, Thomas Mann veio visitar a cidade e ousou perguntar o que estava a acontecer em Ettersberg. Fecharam o campo, e reabriram-no como museu - para lembrar o horror do tempo do fascismo...
Só depois da reunificação houve a coragem de lembrar que os russos fizeram nesse lugar o mesmo que os nazis.
"As pessoas morriam de medo de falar do campo russo", contou-me uma amiga. "Os avós contavam aos netos, muito em segredo. Mas os pais faziam questão de ignorar. Não se podia saber, era muito perigoso."
Repare-se na diferença na contagem de vítimas. Sabe-se que o “mal castanho”, em Buchenwald, liquidou 60.000 vidas. Não estão apuradas (pelo menos, não foram indicadas) quantas vidas ali, no mesmo campo, o comunismo liquidou. Nesta segunda utilização, Buchenwald, foi um campo onde ainda hoje o silêncio esconde as vítimas. Quantas foram, quem foram, não interessa para a História. Não se podia, não se pode saber. É que há boa gente a entender que o “mal vermelho” não fez nem faz vítimas, faz a luta de classes. E as vítimas da luta de classes não são vítimas, são o preço para virmos a ser todos muito felizes, incluindo as vítimas.
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(*) - Esclarece a autora do post que deu pretexto a este lembrete: "O campo dos nazis chama(va)-se Buchenwald; o dos russos, nas mesmas instalações, chama(va)-se Sowjetisches Speziallager Nr.2 (campo especial soviético nº2)". Agradecido pela precisão, qui fica a devida nota quanto às diferenças nas nomenclaturas das máquinas de assassínio em série que utilizaram a mesma fábrica de mortes. Este e outros judiciosos esclarecimentos e sentimentos sobre o tema por quem conhece bem a realidade local, vivendo há anos em Weimar, junto àquela memória do nojo humano, devem ser lidos aqui.
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