Uma jornalista escrever assim sobre a “bufaria”, servindo quem serve, aspirando ao que aspira, suspirando como suspira de saudades por regimes que eram sociedades assentes na polícia e na delação, com astronómicos índices de agentes e bufos infiltrados em todos os sectores e actividades, é prova de um descarado cinismo hipócrita.
Claro que na URSS, na RDA ou na Checoslováquia, e outros países que tais, a delação de sinais e sintomas de divergência era prova de consciência de classe e de espírito de defesa do partido. Como hoje em Cuba, como bem assinalou o Tomás Vasques, os CDR cubanos não passam de redes de bufos controlando por bairro, por prédio, por habitação, a opinião e o comportamento do vizinho, enfiando na prisão, em nome da defesa da revolução, por um desabafo ou um grito de revolta, pretendendo transformar a delação em cultura e tradição popular. Mas a estrutura da personalidade (incentivada e recompensada) é sempre feita da mesma miséria humana. E o comunismo demonstrou ser a mais formidável máquina de produção de polícias e bufos, o maior encarcerador de presos políticos, o maior limitador de todas as liberdades, com a liberdade de expressão a ser a mais reprimida.
Em termos de bufaria, o “Avante” devia guardar as pedras que agora atira bem no fundo dos bolsos ou da malinha de senhora jornalista. Porque, pensando que as atira ao PS e ao governo, afinal estilhaça os seus telhados de vidro. E, assim, acaba por fazer um péssimo trabalho para o partido.
Imagem: pormenor do relatório de um bufo da STASI (RDA)
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