“Militarmente derrotados, os nazis deixaram semente nas formas do capitalismo democrático do qual foram e são parte integrante. Por isso, para melhor se entenderem as ânsias de branqueamento e de Nova Cruzada que se desenvolvem no presente é preciso visitar a memória.”
Passando de largo o tremendismo da visão maximalista e apocalíptica da integração determinista e fatalista do nazismo no “capitalismo democrático”, fica-se com uma inevitável expectativa sobre os caminhos propostos para “visitar a memória”, exercício sempre aliciante. Tanto mais que, no próximo domingo, segundo o evocador Jorge Messias, “há uma efeméride que importa recordar: a bestial invasão nazi da União Soviética, em 24 de Junho de
O pior vem depois. Da guerra vêm uns flashes: “A guerra começou com a invasão da Polónia”, “A derrota nazi que libertou a Europa foi paga pela URSS com o assassinato de 20 milhões de cidadãos soviéticos”, mais a cumplicidade do Vaticano com Hitler. Pouco mais. E nada, absolutamente nada, referindo:
- Quando a guerra começou, em 1939, vigorava o “pacto Molotov-Ribbentrop”, de amizade e aliança nazi-soviética, que levou à invasão e ocupação simultânea da Polónia pelo Exército Nazi (parte ocidental) e pelo Exército Vermelho (parte oriental). E que da invasão e ocupação conjunta nazi-soviética da Polónia ainda hoje restam rastos nos traçados das fronteiras ditados pelos vencedores no após-guerra: parte importante da Polónia oriental ocupada em 1939 pelos soviéticos foi integrada em território da URSS reconfigurada por expansão territorial (hoje integrando, sobretudo, a Ucrânia); a Polónia comunista do após-guerra foi “compensada” dos territórios integrados na URSS com a expansão polaca para territórios antes integrados na Alemanha vencida.
- Que, em paralelo com a ocupação soviética da Polónia oriental, a URSS anexou as três repúblicas bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia), também acordado com os nazis no Pacto Molotov-Ribbentrop.
- Que Estaline acreditou até ao último segundo que antecedeu a invasão da URSS por Hitler, descrendo dos seus próprios serviços de espionagem e de informações da “inteligência” ocidental, que o chefe nazi iria honrar sempre o pacto de amizade nazi-soviética e nunca atacaria a URSS (hipótese que Estaline encarava como “uma provocação”). Prova disso é que as fronteiras ocidentais da URSS, a 24 de Junho de 1941, estavam desguarnecidas como se entreteve, em vésperas da invasão, a decapitar os comandos do Exército Vermelho, purgando com fuzilamentos a maioria dos seus generais. E que, assim, Estaline é um dos grandes responsáveis na forma fulgurante como o exército nazi penetrou e ocupou a URSS e pelos 20 milhões de soviéticos caídos na 2ª Guerra Mundial.
- Que se a resistência e contra-ofensiva do Exército Vermelho foram fundamentais, com elevado preço em perdas humanas e materiais, para derrotar Hitler, muitos outros (não soviéticos) caíram e que, sem a abertura da “segunda frente” no ocidente da Europa, o Exército Vermelho não tinha alcançado Berlim.
Mas é assim, em requentada mitologia pró-soviética e de culto a Estaline que, ainda hoje, o “Avante” se mantem inamovível na parcialidade propagandística, anti-histórica, com que “visita a memória”. Os crimes e os erros estalinistas, integrando a tragédia soviética, resistem a ser expelidos do património do PCP. Para os articulistas do “Avante”, repudiar Estaline e os crimes soviéticos, hoje como ontem, seria fazer o jogo dos “inimigos do partido”, incluindo os nazis que são parte integrante do “capitalismo democrático”.
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