Se o nacional-handicap com a Matemática, mais com o Português, é a marca escolar mais profunda do nosso ensino essencial, caracterizando-nos como produtores de rebentos juvenis em estado de semi-analfabetos crónicos em vias de evolução tecnológica, como admirar que os publicitários, malta jovem e criativa, sejam disso um espelho?
Corre por aí um anúncio de publicidade conjunta entre a AVIS e a TAP. Mais ou menos, é assim: aluga-se um carro e ganham-se milhas de voo na transportadora aérea. Os criativos publicitários rebuscaram o Einstein com a sua conhecida fórmula (que é mais conhecida que aquilo que significa) e improvisaram um diálogo em que desta fórmula se passa para uma outra que traduz que por cada quilómetro de viatura de aluguer da AVIS se obtém um crédito triplicado em milhas de voo na TAP. Provavelmente, Einstein nunca deve ter voado pela TAP e suspeito que não tivesse carta de condução (era conhecido como sendo um distraído extremado). Mas como havia fórmula a aplicar e a do cientista judeu alemão é a mais famosa (embora, repito, uma minoria residual saiba o que significa), Einstein, TAP e AVIS dão uma boa salada matemática, tornando-a afinal (como o anúncio salienta) numa matéria em que os portugueses até são bons se treinarem. Só que os publicitários, decerto chumbados ou passados à rasquinha nas contas e descontas, traduzem a triplicação das milhas numa potência ao cubo (superando Einstein que só sabia elevar ao quadrado), confundindo multiplicação com potenciação. E concluem: afinal, a matemática até pode ser fácil. Pois pode. Para eles e para os supervisores das campanhas publicitárias das empresas anunciadas. Mais o estimável público constituído por uma maioria que nunca atinou com a matemática mas já ouviu falar em Einstein (o sábio célebre por deitar a língua de fora). Em que se incluem alguns que têm uma vaga ideia de já terem visto um qualquer filme feito por ele sobre um terrível sujeito chamado Ivan ou coisa parecida.
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[Adenda: Hoje, dia 12, ao voltar a ouvir o mesmo anúncio na TSF, constatei que ele foi refeito, com as mesmas vozes e a mesma encenação mas corrigindo-se a calinada. Agora dizem que a fórmula mete triplicação e não elevação ao cubo. Sim senhor, confirma-se: na TAP e/ou na AVIS, deve haver quem domine os rudimentos de matemática e tenha dado pelo gato. Observação final: como não há matemática grátis e publicidade tão pouco, alguém deve ter pago ou vai pagar a conta da reconstrução do anúncio. Espero que tenha saído do bolso dos ineptos (os publicitários e os supervisores da campanha). Porque, caso contrário, pagaremos nós outros, num aluguer de viatura ou na compra de um bilhete da TAP.]
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