Esta reportagem de “El País” sobre a nova legislação laboral entrada em vigor em 1 de Abril em Cuba, é reveladora do estado a que chegou a sociedade cubana e é um exemplo da inacção e desleixo que caracterizam o “compromisso social” que sustenta, enquanto suporta até ao limite da sobrevivência à beira da implosão, as práticas do “socialismo científico”.
No (pouco) gosto pelo trabalho e na (in)disciplina para com os deveres laborais, estão os únicos escapes de transgressão em que os cidadãos se podem dedicar a violar os ditames do regime de ditadura, pressupondo todos que, trabalhando ou não, as carências são iguais. Com péssimos transportes, pior habitação e saneamento, escassez de géneros alimentares, sujeitos a frequentes cortes de energia, mal pagos, sem sindicalismo reivindicativo permitido, a dedicação ao trabalho, o profissionalismo, é coisa para tontos. O panorama geral, bem geral por teoricamente não haver desemprego, é a chegada tardia aos empregos, saída mais cedo para arranjar transporte para casa, as pausas prolongadas (para uma bebida e tratar de “assuntos pessoais”) e o abuso de certificados médicos para doenças inventadas.
Desde 1 de Abril, pela força de uma nova lei laboral e detalhados regulamentos, tudo “vai mudar” em Cuba. O horário de trabalho vai ser alargado para 8 horas diárias e 44 semanais e há toda uma série de novos regulamentos e punições para reprimir a “falta de dedicação ao trabalho”. É da regra que, em sociedades fechadas, quando a sociedade se desmotiva desce de cima uma onda de leis e regulamentos. Os “burocratas da revolução”, quando falham na “engenharia social”, puxam das leis. Os erros são sempre das massas populares. E os Sindicatos são coisas de sociedades capitalistas, a usar antes e para a revolução, passando a inutilidade quando os trabalhadores “chegam ao poder”, tão ao poder que têm de ser obrigados a trabalhar.
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