Da EDP espera-se que se ligue o interruptor e saia luz. E arranque, sob nossas ordens, a máquina de lavar loiça e o micro-ondas nos aqueça a comida com o remanescente de véspera porque o tempo não está para desperdícios. E o aspirador não se negue a limpar as irritantes migalhas de bolachas deixadas como herança da manutenção nos níveis de hidrato-carbonos, vingando-nos, nestes gastos, um dia mal pago e mal urdido em que falhou a promoção prometida, coincidindo com a notícia catastrófica e de escárnio freudiano da perda de virgindade da filha do meio, e nos enfiamos no sofá para receber a tele-evangelização privada ou percebida pelos neurónios como serviço público. Estas e outras coisas que metem tomadas, fichas, fios e, sem pensarmos nisso “ao momento”, as contas para pagar pelas nossas úteis, acrescidas das lúdicas, necessidades. Sempre exorbitantes, mas depois banalizadas como escândalo instantâneo entre a cascata das muitas contas para pagar que predominam nas caixas do correio relativamente às parcas cartas de amigo ou de amor e só ultrapassadas pelos pedidos de comprarmos o inútil para sermos felizes
Um consumidor sujeito a este ciclo repetitivo de ligar e desligar interruptores, estender extensões a terminarem em fichas triplas, substituir lâmpadas fundidas e pagar as contas à EDP por desconto bancário, liga o PC, acende a Internet, liga-se à EDP, mãe da nossa energia, e lê:
Nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 248.º do Código dos Valores Mobiliários, a EDP - Energias de Portugal, S.A. (EDP) vem prestar a seguinte informação ao mercado e ao público em geral:
A EDP celebrou hoje com a Goldman Sachs Group, Inc. um contrato de compra e venda de 100% do capital social da Horizon Wind Energy LLC ("Horizon"), uma empresa líder no desenvolvimento, gestão e operação de parques eólicos nos Estados Unidos da América.
Esta transacção valoriza os capitais próprios ("equity") da Horizon em 2.150 milhões de dólares. A dívida líquida da Horizon a 31 de Dezembro de 2006 era de 180 milhões de dólares. O valor de aquisição, à data da sua conclusão, será ajustado pelos investimentos incorridos, actualmente estimados em 600 milhões de dólares.
O financiamento desta aquisição será realizado através de empréstimo bancário à EDP e de entradas em dinheiro de um parceiro de investimento em "tax equity", encontrando-se ambos acordados em regime de "underwriting".
A conclusão desta operação está sujeita à verificação de determinadas condições típicas, incluindo a obtenção de autorizações regulatórias por parte de autoridades federais e estaduais americanas. Espera-se que esta operação venha a ser concluída até ao final do segundo trimestre de 2007.
A aquisição da Horizon integra-se no âmbito dos objectivos estratégicos da EDP, na medida em que:
(i) Antecipa o cumprimento das linhas estratégicas definidas para o período 2007-2010;
(ii) Reforça a posição de liderança da EDP no sector das energias renováveis;
(iii) Viabiliza a entrada da EDP, com uma posição de liderança, no mercado dos Estados Unidos da América, o qual apresenta perspectivas de elevado crescimento;
(iv) Diversifica as fontes de receita da empresa, reduzindo os riscos do respectivo "portfolio".
Com a aquisição da Horizon, a EDP tornar-se-à num player líder a nível mundial no sector das energias renováveis com mais de 3.800 MW brutos de capacidade de produção em operação até ao final de 2007.
Desde a sua criação em
A empresa detém actualmente 559 MW brutos de capacidade eólica em operação e 997 MW de projectos em construção, cuja entrada em operação se espera que venha a ocorrer até ao final de 2007, perfazendo um total de 1.556 MW brutos (1.324 MW líquidos). A Horizon detém ainda um "pipeline" de projectos atractivo em diferentes fases de desenvolvimento em 15 Estados com uma capacidade de produção potencial total de mais de 9.000 MW.
Lê e não percebe como vai melhorar a sua vida (energética). Nomeadamente, quanto aos efeitos nas lâmpadas, na máquina de lavar loiça, no micro-ondas, no aspirador, nas televisões pública e privada e se diminui o número de lâmpadas fundidas. Menos entende como é que a electricidade produzida pelas ventoinhas eólicas enfiadas pela Horizon nos vales dos Estados Unidos, atravessando o Atlântico, lhe chega às tomadas do lar e lhe melhoram o ambiente, por provir de uma fonte renovável. E qual o significado de a EDP passar a ser um “player mundial no sector das energias” quando reflectido nas facturas que paga. A que se soma a perplexidade perante o trambolhão com que a Bolsa penalizou a EDP por esta aventura nas ventoinhas eólicas americanas. Cansado de pensar, só pode desconfiar da capacidade de António Mexia justificar, em energia e rentabilidade, a gorda e milionária compensação que receberá quando for corrido e substituído na EDP. Sabendo que vai, fatalmente, ser ele a pagar na factura da electricidade descontada na conta bancária. Porque sem lâmpadas, sem máquina de lavar, sem micro-ondas, sem aspirador e sem televisão, a vida reduz-se à ausência de energia. Ou seja, acende-se-lhe a morte. Cruzes canhoto. E assim, enquanto durar, vamos todos precisar de Mexia. Pagando-lhe. Incluindo quando ele zarpar ou fôr zarpado.
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