Estão maus os tempos para os que foram “pides do Leste” no implodido bloco do “socialismo real”. Zelosos funcionários de Estados conquistados pelo Exército Vermelho e que da supremacia operário-camponesa passaram para Estados de Partido Único até culminarem (todos!) em Estados de Polícia, vivem agora momentos difíceis. Habituados, impunemente e com direito a benesses e medalhas, a vigiarem, denunciarem, prenderem, torturarem e assassinarem, combatendo a diferença, os antigos “pides do Leste”, repudiados pelos povos que lhes sofreram a canga ditatorial, estão em aflição para se reintegrarem nas “novas ordens” decididas aos votos.
O “Avante”, como era de prever na velha tradição dicotómica do ódio a Peniche com amor a Lubianka, sofre com a má sorte dos seus queridos camaradas “pides do Leste”, prestando-lhes a previsível solidariedade:
"Agora [na Polónia], todos aqueles cuja data de nascimento é anterior a Agosto de 1972 (isto é, maiores de idade na altura da derrota do regime socialista, em 1990), e exerçam as profissões abrangidas (cerca de meia centena), devem revelar os pormenores da sua eventual colaboração com os órgãos de segurança do país.
Nesse sentido, dispõem de um prazo de dois meses para entregar a declaração ao inquisitório Instituto da Memória que a confrontará com os arquivos da polícia (SB) da antiga República Popular da Polónia e divulgará os resultados na Internet."
(…)
"Depois da queda do muro de Berlim, e a absorção da RDA pela RFA, muitos milhares de funcionários do Estado, professores universitários, pessoal diplomático, entre outros, foram simplesmente expulsos pelo governo alemão. Até Dezembro passado, muitos cidadãos alemães, acusados de terem colaborado com os órgãos de segurança (Stasi), tinham o acesso vedado aos quadros da função pública. Esta interdição mantém-se para os cargos de ministro, deputado, juiz e de dirigente desportivo.
Na Estónia, os candidatos a altos cargos do Estado eram obrigados, até ao ano
"A Bulgária acaba de aprovar uma lei que visa apurar o passado de 28 grupos profissionais, entre os quais estão os políticos e os jornalistas, enquanto que a Roménia exige uma declaração de honra aos funcionários públicos, sancionando os que prestam falsas informações. Entretanto, o parlamento nacional prepara-se para aprovar uma lei mais severa."
"Na Checoslováquia, desde 1991 que os antigos colaboradores da polícia estão impedidos de ingressar na administração pública."
Resta agora esperar pela inevitável tomada de posição da URAP, provavelmente pedindo uma ala de recordação dos "pides de Leste" num Museu da Memória para que se perceba bem a diferença, do ponto de vista dos perseguidos, entre a sorte dos que sofriam por tratos daquelas mãos sujas de sangue e as congéneres saídas das mangas odiosas dos "pides salazaristas".
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