Um dos grandes emblemas propagandísticos brandidos pelos saudosistas de Salazar, são os lingotes de ouro que ele foi amontoando no Banco de Portugal como se de um Tio Patinhas se tivesse tratado, mas no caso, a amealhar um tesouro gordo deixado como herança à Nação. O que casa bem com o seu conceito do português ideal - o camponês trabalhador e poupado (ele via-se assim, queria-nos assim), com um pé-de-meia amealhado em feiras de galinhas, grelos, nabos e cebolas, vendendo o suor em saldo para gáudio dos comerciantes nababos e membros empenhados da União Nacional, para encafuar as notitas colhidas entre as palhas do colchão conjugal, a que um ou outro arremedo procriador ajudava a acamar entre as folhedo sobrado da última desfolhada do milho.
O problema é que o “ouro de Salazar” acumulado, apesar de brilhar tanto como qualquer, foi um ouro sujo. Feito do mesmo lixo com que ele, em artes de sábia manha de camponês seminarista e inteligente, construiu os seus feitos em cima de crimes, castrações, quartos escuros, pequenez no pensar e relegando-nos para um atraso de que ainda hoje não conseguimos recuperar. Porque a origem desse ouro acumulado teve, sobretudo, duas origens nada recomendáveis:
- O “ouro nazi”, aqueles lingotes cambiados na Suiça, com que Hitler pagava as importações do Portugal de Salazar (sobretudo: volfrâmio para os seus tanques de guerra e conservas para integrarem as rações de combate da Wermatch) e cuja proveniência foi, essencialmente, dos esbulhos aos judeus escorraçados e exterminados nos territórios conquistados pelo Terceiro Reich.
- O “ouro sul-africano” sugado através da colónia de Moçambique e que era um imposto de mão-de-obra em espécie que Salazar cobrava à pró-nazi África do Sul pelos mineiros moçambicanos utilizados nas minas dos afrikanders (aliás, este ouro, valor estabelecido por cabeça de mineiro moçambicano, nem sequer entrava nas contas daquela colónia, era directamente transferido para a “conta central” da sede do Império).
Triste só pode ser a gente que hoje nos quer orgulhar deste espólio, mais mafioso que virtuoso.
Imagem: Foto de Salazar (*) de braço dado com um dos seus grandes amigos apoiantes - Henrique Tenreiro, aqui fardado de Almirante, o homem de Salazar para o mar, as pescas e o braço naval da Legião Portuguesa.
(*) Como pormenor, repare-se no chapéu todo amachucado que Salazar transporta na mão. Deduzo que, antes, deve ter-se sentado em cima dele. Ou então foi do serviço mal acabado de um "pide" quando verificou que ninguém lhe tinha metido um petardo dentro.
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