Falando de museus dedicados a regimes finados, lembrei-me que, numa recente estadia em Praga, constatei que os checos, na sua maioria profundamente anticomunistas (viveram em ditadura comunista durante mais de 40 anos e acharão que lhes bastou e sobrou), não prescindiram de dedicar um Museu ao Comunismo.
Localizado numa artéria nobre junto à central Praça Venscelau, ironicamente situado entre um McDonald's e um Casino, ocupa uma parte de um primeiro andar de um palacete antes ocupado para actividades de lazer dos nababos da nomenklatura da vanguarda do proletariado checoslovaco. O espaço é pequeno e sóbrio e constituído por cinco salas em que se circula desde a representação da fase da “esperança” (imediata à libertação dos nazis e em que os comunistas conseguiram uma forte adesão eleitoral), passando-se à fase da “consolidação” da ditadura (em que os comunistas deram o golpe de 1948 e tomaram o monopólio do poder sob a batuta soviética, estruturando a natureza do regime segundo um programa totalitário), passa-se para a fase da “decepção” (estiolamento da economia, agressão ambiental, desencanto e invasão das tropas soviéticas, repressão), visita-se uma sala de interrogatórios da poderosa polícia política (substituta do partido como pilar do regime) e termina-se na evocação da “revolução de veludo” que permitiu o retorno à democracia e á liberdade.
O museu, que é de exploração privada e se paga a entrada, tem não só uma abundante afluência (sobretudo turistas) como, apesar da modéstia do espaço, tem um recheio completíssimo de materiais ilustrativos como a legendagem museológica é rigorosa e sucintamente objectiva, permitindo “respirar a atmosfera” do regime deposto viajando da nascente ao ocaso da ditadura monolítica, asfixiante e repressiva. [aqui pode-se ter uma ideia aproximada através de um tour virtual]
Um dos pontos mais interessantes deste Museu é a parte dedicada à evocação e ilustração da insólita e atribulada construção e demolição do monumento dedicado a Estaline em Praga. Após a instalação de regimes comunistas nos países ocupados pelo Exército Vermelho no fim da Segunda Guerra Mundial, todos os novos países que rechearam o império soviético, foram incentivados a darem provas de culto pelo “Pai dos Povos”. Em Praga, o local escolhido foi o cume de uma das altas colinas junto da zona presidencial do Castelo (a colina Létná) e foi concebido de forma que Estaline fosse visto e adorado qualquer que fosse o local por onde se circulasse na cidade. Em 1951, iniciaram-se as obras constituídas por um gigantesco maciço em granito e mármore com uma base pedestal e um grupo figurativo de trinta metros de altura representando Estaline a conduzir os povos, ocupando imensos recursos e o trabalho porfiado de centenas de trabalhadores. A inauguração deu-se em 1955 (na imagem), já Estaline tinha morrido. O XX Congresso do PCUS realizado logo no ano seguinte e revelando parte da paranóia criminosa de Estaline, a denunciada por Krutchov, não ajudou ao prestígio do monstro monumental, tornando-o um embaraço para as próprias autoridades da ditadura desejosas de sacudirem a sua colagem ao “culto da personalidade” ao maior entre os monstros comunistas. Em
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