O longo e doloroso processo independentista africano, que golpeou o império português na boca do estômago, apanhou a diplomacia americana completamente à nora. E assim foi até há pouco. Em África, os americanos andaram sempre aos papéis. E só não foram ridículos porque, de nabice em nabice, foram enfiando dólares, corrompendo, armando, a mor das vezes apostando nos cavalos errados e nos equívocos paridos pelo maniqueísmo da “guerra fria” e pela aparente facilidade dos "homens de mão". E armas erradas em mãos erradas é tudo menos risível. Só recentemente, com o esfarelar da bipolaridade, por falência de um dos jogadores matulões, os Estados Unidos começaram a acertar o passo com os seus interesses em África, recolhendo e reconvertendo as velhas e gastas lideranças marxistas herdadas do outro lado da barricada, a demonstrarem que, afinal, estas gostam mais de dinheiro que desgostam do capital. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Açores (melhor, a Base das Lajes) travou, no compromisso perante a chantagem de Salazar, e logo ainda na Administração Kennedy, que a América definisse e praticasse uma política coerente e persistente para a libertação das antigas colónias portuguesas-africanas e que lhe desse o passo certo com o tempo. O que empurrou a dinâmica histórica para os braços do outro bloco. Depois, as burrices contumazes de Kissinger, mais obsessivo que inteligente, fizeram o resto. Num caso e noutro, nunca aprendendo com os erros, antes entretendo-se a somá-los, a Administração dos EUA fez, com o colonialismo português, exercícios de estilo de estupidez política. E tanto que até foram apanhados de surpresa quando o fascismo caiu de podre prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />
O estremeção anticolonial e a descolonização, com uma mortífera guerra colonial em três frentes e durante treze anos, mais a destruição dos jovens países africanos, não podem ser entendidas se não se entender o “papel americano” naqueles processos. Por presença mas sobretudo por ausência. Até porque muitos dos brutais e consecutivos “erros americanos” estão agarrados á pele da tragédia – na forma da teimosia colonial portuguesa e nas peripécias trágicas do desarmar a tenda do império (em que soviéticos ficaram com as cartas para jogar e aos americanos só restou o antijogo sujo). Imprescindível, assim, a leitura do recente livro de Witney W. Schneidman (*), um excelente conhecedor da diplomacia americana e que trabalhou sobre documentação entretanto desclassificada e que ajuda, com clareza brutal, a entender e pasmar com a burrice diplomática americana e, pela qual, África e Portugal pagaram um preço tão alto e ainda longe de saldar. Os Estados Unidos não tanto - demoraram a entender-se com África e os africanos mas já recuperaram o tempo perdido, pois os dólares fazem, vezes sem conta, o que a inteligência nem sempre consegue.
(*) – “Confronto em África – Washington e a Queda do Império Colonial Português”, Witney W. Schneidman, Editora Tribuna (com prefácios de Frank Carlucci e Leonardo Mathias).
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