Há sempre uma boa razão para beberricar uma “Pilzen”, talvez a única cerveja que não se justifica só por nos pôr a mijar. Merecendo a honra de ser posta a par de uma boa garrafa de vinho. E um pretexto, óptimo, para atacar mais uma “Pilzen”, seja comemorar a República Checa (nome de treta que precisa de “República” agarrada, porque não Boémia-Morávia?) ter-nos passado a galope nos indicadores de PIB “per capita”. Não por nós, que nos continuamos a atrasar, raios partam isto, mas pelo bem deles, que bem o merecem. Até pela “Pilzen”. Mas não só, não só. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Só o mais distraído dos cosmopolitas se admira que a República Checa nos tenha passado a perna. Do fundo dos tempos históricos europeus, que a sina estava traçada. Mesmo dominada pelo Império Austro-Húngaro, a Boémia (e o seu ducado anexo – a Morávia) foi não só a sua fonte da burocracia estatal (e o seu burocrata mais célebre, por motivos extra-burocráticos, terá sido Kafka) como a sua base de industrialização. E quando Hitler chamou um figo à Chancelaria alemã, a checa Boémia estava mais industrializada que a Alemanha.
Durante décadas, penduraram na Boémia o penduricalho da Eslováquia, agrária e catolicista, sobretudo para lhe dar rumo e contrabalançar o ímpeto “hussenista” de clarividência com a batuta de um bom joelho dobrado perante o Santo Papa. E assim fizeram a Checoslováquia, uma aberração que já se desfez. Por decisão dos eslovacos e alívio dos checos. Entretanto, e pelo meio, a Checoslováquia, ainda foi socialista e revolucionária, mandada por Moscovo, porque um azar nunca vem só.
Os checos (os boémios e os primos morávios, esses ainda mais porque seguem, a par e passo, a arte de sobreviver dos primos maiores, seguindo os boémios e a quem os boémios pagam tributo de sobrevivência) dominam a arte da submissão. Não a submissão servil, mas a arte de sobreviver na desigualdade de forças. Mais silenciosa que servil. Daí a espantosa lenda do “Soldado Schweik” que demonstra à exaustão a arte da rebeldia submissa, com uns pós de cinismo e outros tantos de “espera pela volta”. O problema é que são uma cambada de tristes, género aristocratas da tristeza. Enquanto tecem o “saber fazer” e fabricam e emborcam, dando-nos a emborcar, a valente “Pilzen”. Foi assim com austríacos e húngaros, com os nazis, com os soviéticos, agora com a União Europeia. Guardando, como tesouro maior, a mais bela entre as mais belas cidades do mundo (Praga). E como paradigma do estar e ser checo, é que Praga já foi gozada por turista cão ou gato que fossem e ainda está para ser gozada pelos checos, esses tristes com medo do futuro por causa das cicatrizes do passado. Mas, pé ante pé, eles avançam. Como quem não quer a coisa. Tardou nada, passaram-nos. Merecem, outra vez, uma valente “Pilzen” goela abaixo. Devagarinho. Como se vinho fosse.
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