É isso, trata-se de mero interesse histórico ler o que dizia o “Avante” no final de 1937 sobre o problema do aborto e o paradoxo de ele então ser proibido na URSS. Se algumas “operárias do Barreiro” tinham as suas dúvidas sobre a aparente contradição, elas não restavam para o PCP, como em toda a sua história, que o que havia LÁ só podia ser BOM. Mesmo que, na matéria, o poder soviético tivesse primeiro liberalizado o aborto a seguir à Revolução, depois proibi-lo (numa fase de enorme decadência demográfica devido aos milhões de mortos nas fomes forçadas para extirpar os "kulaks", na repressão e nos trabalhos forçados) para o voltar depois a permitir (e o aborto foi permitido na URSS durante a maior parte da sua existência). Em cada caso, sempre uma boa e fundamentada decisão. Ali estava a Terra do Bem. Interessante porque lido à distância, este documento que o JPP lembrou e em que coloca as hipóteses alternativas de o texto ser da autoria de Cunhal ou de Pavel (ali, o texto pode ler-se fazendo click sobre as imagens) e que se transcreve:
Damos imediata resposta a esta pergunta, formulada por algumas operárias do Barreiro.
O aborto é um acto inteiramente anormal e perigoso que tem roubado não poucas vidas e tem feito murchar não poucas juventudes. O aborto é um mal terrível. Mas, na sociedade capitalista, o aborto é um mal necessário, inevitável, bemfasejo até.
Na sociedade capitalista, um filho significa, para os trabalhadores, mais uma fonte de privações, de tristezas e de ameaças.
Quem tem filhos – diz-se – tem cadilhos…
Pode-se imaginar algo mais doloroso que uma família de operários obrigados a sustentar dos seus miseráveis salários cinco ou seis filhos? É a fome, o raquitismo, a tuberculose, a tristeza da vida, vivida em promiscuidade. E que futuro espera essas crianças? Serem uns desgraçados... como dizem as nossas mulheres.
Por isso, a mulher de país capitalista, é obrigada a sacrificar o doce sentimento da maternidade, é obrigada a recorrer, tantas vezes com o coração sangrando, ao aborto.
Por isso, a proibição do aborto, aborto na sociedade capitalista, é uma hipocrisia e uma brutalidade. Na URSS a situação é tão diferente, como é diferente a noite e o dia.
Na URSS não há desemprego, não há miséria – há abundância de produtos. Tanto a mulher como o homem recebem salários que satisfazem as suas necessidades. A mulher grávida tem 4 meses de férias durante o período da gravidez, com os salários pagos. Há maternidades, creches, jardins de infância e escolas por toda a parte. O governo soviético dá prémios que vão até 5 mil rublos para as mães que tenham mais de 5 filhos, etc.
Ser mamã é uma das grandes aspirações das jovens soviéticas.
E onde há uma esposa que não quisesse ser mamã sabendo que o mundo floria para acolher o seu menino? Sabendo que o seu filho não seria um desgraçado mas um cidadão livre da grande República do Socialismo? A criança, na URSS, deixou de ser um motivo de preocupações, para se tornar uma fonte luminosa de alegria e de felicidade.
O aborto perdeu portanto a sua única justificação, tornou-se desnecessário. Por isso, o governo soviético decidiu propor, ao povo trabalhador, a abolição da liberdade de praticar o aborto, liberdade essa concedida, a título provisório, nos primeiros tempos da república soviética, quando esta gemia sob o peso da fome e da peste, ocasionadas pela guerra e pela contra-revolução capitalista. Depois de discutirem amplamente a lei proposta pelo governo soviético, as mulheres e todo o povo trabalhador, aprovaram essa lei que correspondia inteiramente ás condições de existência livre e feliz dos que trabalham na grande Pátria do Socialismo triunfante.
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