Em tempo de tractores que brilham ao sol dos protestos dos donos da terra, ociosos por conta do subsidiar no lugar do semear, é a terra, não os tractores, que me vêm ao pensamento.
A terra mãe. A terra que secou e bebe ávida as humidades desta chuva de diamante que tanto incomoda os urbanos, estragando-lhes passeios telúricos, ou nem isso, a apanhar malmequeres, conchas, pasmados perante as mimosas, passeando o cão e espetando as pontas dos dedos dos pés na espuma da maré, antes que chegue a hora do almoço no restaurante com toalha aos quadradinhos em que o peixe grelhado se deita para se submeter ao genocídio da gula programada.
Eu que não passo sem os olhos metidos dentro do mar, armado em pescador de azul, faço-lhe tréguas de virar costas e prefiro espetar agora os dedos na terra, partir unhas a escavar-lhe os tecidos, confirmar se a terra, desta vez, está bem bêbada de água, pronta a enfrentar o sol germinador. Com uma vontade danada de lavrar puxada a burros porque de tractores nada sei nem quero aprender.
E vou namorar as minhas árvores
Um melhor que bom fim-de-semana para todos vós.
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